Quarta-feira de cinzas taí. Trazendo lágrimas para alguns, uma alegria infindável para outros, o ano começou. E se não desejamos só reclamar por mais 4 anos, ou depois que os supostos dólares da Copa vazarem pelas fronteiras, é hora de arregaçar as mangas!
Em épocas de eleição mesmo aqueles que nunca pensam sobre a política nacional tornam-se militantes, da mesma forma que se tornam ufanistas em tempos de Copa do Mundo... Bom, pelo menos em algum momento essa inércia - que a mim, me lembra mesmo é um monstro medieval de 8 braços imobilizando a nação - é vencida, mesmo que temporariamente.
Em épocas de eleição mesmo aqueles que nunca pensam sobre a política nacional tornam-se militantes, da mesma forma que se tornam ufanistas em tempos de Copa do Mundo... Bom, pelo menos em algum momento essa inércia - que a mim, me lembra mesmo é um monstro medieval de 8 braços imobilizando a nação - é vencida, mesmo que temporariamente.
Com isso escutamos e lemos por aí
uma série de confusões conceituais construídas sobre raciocínios e leituras
tortuosas da realidade, bastante condizentes como o ensino de nossa história
pelo qual a elite brasileira optou durante tantos anos não democráticos.
Em primeiro lugar, de um modo
mais amplo, sofremos de uma apatia parasitária. Assistimos a todas as decisões
tomadas no país, decisões que terão reflexos diretos nas nossas possibilidades
de vida, no nosso cotidiano... E, porque não, nos nossos sonhos? O máximo que
fazemos é reclamar da vida, dos políticos, da roubalheira, com o S. Zé da
padaria, o Antônio jornaleiro ou aquele taxista que você pegou na “Hora do
Brasil”. Somos roubados todos os dias e não fazemos nada... nunca.
Porque será que quase ninguém no
Brasil considera interessante a sua própria História. Mesmo aqueles que dizem
gostar, volta e meia, fazem uma ressalva com relação a disciplina, à própria
trajetória enquanto sociedade, população e até mesmo indivíduo?
Por muitos anos, enquanto houve
ditaduras no Brasil, optou-se por ensinar História Brasileira sob o prisma da
passividade e alegria como principais características da nação. Somos alegres,
claro! Mas será que sempre fomos tão passivos assim? Ou será que essa apatia e
descrença todas são fruto de falta de prática cidadã, e de uma noção deturpada
de suas lutas e conquistas ao longo da História.
As guerras indígenas que
aconteciam aqui quando chegaram os portugueses, e que contribuíram, direta e
indiretamente, para nossa exploração não recebe o mesmo destaque nos conteúdos
programáticos escolares, que recebe o viés de relação de cooperação das tribos
e dos jesuítas ou bandeirantes.
Será mesmo que D. João VI era tão
bobão assim? Em primeiro lugar, ele não seria rei. Foi coroado, pois seu irmão,
o primogênito D. José, que a vida toda foi treinado para assumir o trono, tinha
a saúde frágil e faleceu ainda jovem. Quando pressionado pelo avanço de
Napoleão, finalmente, utilizou o plano de evasão da Corte que estava engavetado
há tempos e já fora cogitado em outras situações de crise. Uma excelente manobra que lhe permitiu
resguardar o poder em Portugal e no Brasil. Não acho que tenha sido um covarde,
ao contrário teve a coragem que nenhum rei português tinha tido, até então.
Os quilombos são ensinados como
se os negros fugissem para viver numa dimensão paralela, uma “reprodução da
vida tribal africana”. Mas o que é isso?! Nossos negros, barbaramente
importados, também eram os mais covardes da África (como eram os portugueses em
relação à Europa, para nós)? Juro que
uma vez vi uma futura professora apresentar uma aula colocando no quadro: “Formas
Passivas de Resistência Escrava”. Resistência até pode ser pacífica, não acho
que tenha sido esse o caso, mas pode acontecer. Se é resistência, é ativa, não
passiva! Mas é isso que aprendemos por aí, numa sala de professores ninguém
pareceu notar a incongruência das idéias. Seguiram todos pacificamente
concordando.
Além disso, temas como a Revolta
dos Malês, Revolta da Chibata, Manoel Congo, Zumbi, etc. são praticamente
ignorados. Você conhece todos, ou alguns? Diversos levantes e movimentos
populares/ sociais são dignos de maior status. De “brainstorm”: Guerra dos Farrapos, a Revolução Constitucionalista, A
Coluna Prestes, A Revolução de Natal, A Guerra do Araguaia, Canudos.
Acabo de ler o livro Mata! O major Curió e as guerrilhas no Araguaia do jornalista Leonêncio Nossa. E se algo me chamou atenção nessa longa e detalhada obra é, justamente, a memória de luta da população. De um lado ou de outro da oficialidade a maioria dessas pessoas possui um antepassado revolucionário ou militar condecorado em função dos conflitos locais. Da Cabanagem à guerrilha todas as famílias traziam viva essa memória.
Acabo de ler o livro Mata! O major Curió e as guerrilhas no Araguaia do jornalista Leonêncio Nossa. E se algo me chamou atenção nessa longa e detalhada obra é, justamente, a memória de luta da população. De um lado ou de outro da oficialidade a maioria dessas pessoas possui um antepassado revolucionário ou militar condecorado em função dos conflitos locais. Da Cabanagem à guerrilha todas as famílias traziam viva essa memória.
Quando surge na nossa História
contemporânea um período de conquistas sociais necessariamente trata-se do tal
“populismo”. É sempre um governo assistencialista que se utilizou de manobras
para conseguir maior apoio popular. Os trabalhadores urbanos ou rurais, a
sociedade, o povo mais organizado ao longo do tempo, não tiveram qualquer
participação em nenhuma conquista.
E pior, a classe política
especializa-se em “pais de leis”. Todo mundo quer ser autor de projetos postos
em prática. Por causa dessa tal “paternidade legislativa/administrativa”,
excelentes projetos são interrompidos.
Quando um escândalo nacional como
o do Collor chega à imprensa, isso já é sinal de avanço, se pensarmos que pouco
antes, esses mesmos jornais sofriam censura. Mais ainda, se diante do fato,
milhões de brasileiros se reúnem em todo o Brasil, vestindo preto, num domingo
de sol desse país tropical, para exigir a saída do primeiro presidente eleito
depois de mais de 20 anos. Se a legitimidade de Collor advinha da forma
democrática com que fora eleito, porque não democratizar também as pressões
para sua saída? Será que foi só a Globo que tirou o Collor do poder? Milhões de
brasileiros nas ruas não fizeram a menor diferença? Nenhuma?
Bem, essa não é a minha História
Será que se tivéssemos ficado em
casa apenas ouvindo o Cid Moreira falar, com a mesma apatia a que ouvimos o
Bonner hoje, o CN se sentiria tão livre para não cassar determinados políticos,
não tomar determinadas decisões ou tomar outras? Será que o dinheiro que os cofres públicos
deveriam acumular evaporariam assim?
As Jornadas de Junho que perduram, ainda que um tanto quanto trôpega e amedrontada, até hoje, nos mostraram que o projeto funciona. Esconder as convulsões sociais para debaixo do tapete e criar uma cultura do "sim senhor" disfarçada de um orgulho do pacifismo nacional faz com que qualquer ato de desobediência civil seja visto como precedente perigoso. O fato de se discordar de algumas estratégias de luta não deve ser utilizado sistematicamente para deslegitimar demandas sociais justas. Mas quando um povo não conhece seu passado, não tem memória, torna-se facilmente manipulável.
As Jornadas de Junho que perduram, ainda que um tanto quanto trôpega e amedrontada, até hoje, nos mostraram que o projeto funciona. Esconder as convulsões sociais para debaixo do tapete e criar uma cultura do "sim senhor" disfarçada de um orgulho do pacifismo nacional faz com que qualquer ato de desobediência civil seja visto como precedente perigoso. O fato de se discordar de algumas estratégias de luta não deve ser utilizado sistematicamente para deslegitimar demandas sociais justas. Mas quando um povo não conhece seu passado, não tem memória, torna-se facilmente manipulável.
No meu país existiu um povo
forte, que tinha capacidade real de se indignar. Que conseguia se organizar. Mesmo
que algumas vezes equivocadas, meu país tem pessoas de valor que lutaram e morreram
por ideais de nação. Por sonhos comuns, fossem quais fossem... Mas que depois
de muito tempo repetindo outra versão dos fatos, desconheceu seu valor, passou
a ignorar sua força, seus direitos, suas obrigações, e até mesmo seus sonhos,
suas utopias.
E o que é um povo sem utopias? É essa massa amorfa e barulhenta, que acredita
que não tem “DNA histórico” para se transformar em outra coisa. Que não sabe o
que é. De que é feito. Ou para que serve.
Que no máximo consegue se repartir em milhões de umbigos ocupados
reclamando sem parar, e sem se ouvir. Esse é o monstro criado quando a História
só é vista de cima para baixo. E feliz 2014!






