terça-feira, 23 de junho de 2015

Sobre jornalistas, pastores e rolas



Boechat é um dos poucos GRANDES jornalistas do Brasil. E no episódio Boechat 1 x Mala-faia 0, lavou a alma de muita gente... Mas precisava fechar daquela forma?

A polêmica da rola do Boechat ou do Malafaia, tanto faz, entupiu a minha linha do tempo e o meu tempo em si. Por isso resolvi escrever. Vamos lá:

Logo que a resposta do Boechat começou a ser compartilhada nas redes, senti-me incomodada. Aquela rola no final me incomodou muito!!! Incomodou, pois achei grosseiro e ponto. Por ser tão homofóbico/misógino quanto os discursos de Malafaia. Do pastor raivoso e intolerante eu espero uma grosseria assim, do jornalista esperava mais classe.

Quando se está numa discussão com alguém que grita, se destempera e fala palavrões... é fato: quanto mais calmo se é, quanto melhores os argumentos e a educação, mais as pessoas ouvirão e darão razão a quem se controla.

O que Boechat conseguiu, foi lavar a alma dos que já concordavam com ele. Mas aposto que, ao mandar o pastor procurar a rola, não convenceu nenhum fiel de que a tolerância vale à pena. Ao contrário.

Para defendê-lo um séquito de fãs que diziam: “Qualquer um se descontrolaria”, “foi dito sem pensar”... Espero, realmente, que o nobre jornalista não tenha pensado em dizer isso de antemão. Mas a sociedade não pode arcar com certos “descontroles”. Nesse sentido, a crítica a meu ver, é parte de um amadurecimento da tolerância.

Perdoar a falha por ele estar nervoso, “na hora da raiva”, é usar a mesma argumentação de que o marido matou a mulher, pois se descontrolou de ciúme, de amor. Matou por amar demais. Senhores, amor não mata, ou pelo menos não deveria.

É na hora da raiva, da irracionalidade que aparece o senso comum da sociedade que vive, mesmo que preso, dentro de nós. Todos aqueles preconceitos que racionalmente não temos, mas estão lá, arraigados nas categorias pelas quais enxergamos a realidade. É na hora da raiva que se chama o negro de macaco, que a mulher mau humorada é assim por ser mal comida, que o obeso é um “gordo safado”, que a mulher pobre vira “empregadinha”, que alguém se torna um “viadinho”, (que em geral é associado ao fato do gay ser feminino e portanto menos capaz).

Sendo assim a censura em prol do respeito à sociedade que queremos ser, se faz necessária. Precisamos evoluir até o ponto em que ser gay, negro, subempregado, etc. não “saiam” como xingamentos na hora do descontrole. Se na hora da raiva “saiu”, parafraseando a propaganda: “você precisa rever seus conceitos”.

Ninguém que criticou o Boechat, critica o discurso como um todo. Criticamos essa colocação (para manter o duplo sentido da coisa toda), é pontual. Se eu for preconceituosa em qualquer momento, por favor, critiquem! Assim como puxarei orelhas alheias pelo mesmo motivo.

Por último, para passar o atestado de machismo da nossa sociedade, muitas mulheres públicas já deram boas trauletadas na TV, no rádio, nas publicações virtuais ou impressas, contra esse fundamentalismo cristão. Mas talvez, por serem elas a dizer, não tenha o discurso (bem melhor argumentado) reverberado tanto por aí.

Ficamos assim, Boechat, eu continuo te ouvindo de manhã e respeitando como jornalista, mas na próxima oportunidade... deixa a rola de fora dessa.

Afinal, quem dera os problemas do mundo fossem tão facilmente resolvidos pela presença do falo masculino.


PS: Freud, valeu a tentativa, mas da rola, a gente só tem inveja na hora de fazer xixi em WC público mesmo...  

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