terça-feira, 1 de agosto de 2017

Destinos possíveis, retornos prováveis

Às vezes dá um desespero, parece com aqueles pesadelos nos quais a gente grita e não sai som. Parece que de repente, numa piscada, a gente perdeu o controle, que nunca teve, e a vida tomou outros rumos. Começamos a reavaliar a trajetória, tentando entender em que ponto da estrada demos essa tal piscada.

Não, não tem que ser assim. Nem sempre é. Para algumas pessoas a vida é uma viagem em uma estrada alemã. Seguem firmes, sem barreiras, sem buracos. Quando a gente olha parece que eles têm o controle total. Se têm mesmo, eu não sei, mas se não o têm, parecem lidar melhor com isso. 

Eu não estou falando de uma vida marcada pela tragédia. Estou falando de algo bem mais sutil. Não há nenhum evento marcante. Nada trágico, nenhuma grande guinada. É um nada que vai acontecendo e levando aos poucos para outras direções. Quando nos damos conta... onde estamos? E principalmente, como viemos parar aqui, se íamos para outro lugar completamente diferente?! Dá tempo, tem como retornar? Ainda dá?

Algumas vezes dá, depende da distância a que paramos do local para onde íamos, se nos perdemos de nós nesse caminho... enfim, depende. Outras vezes não dá, o tempo passou, nos distanciamos tanto de nós mesmos que, antes de mais nada, é preciso se encontrar; as circunstâncias não permitem mais. Podem ser muitas as razões. Pode ser possível retornar em alguns pontos, outros não.

Ainda que dê para retornar, que se saiba como, é bem provável que seja mais difícil, que já se esteja cansado, lento. O retorno exige mais esforço, o caminho fica mais longo. A cada obstáculo o cansaço aumenta. A cada buraco a queda fere mais. É preciso que nos concentremos cada vez mais em nós para conseguir retornar. Mas como fazer isso, sem perder a beleza que se apresenta no caminho? Como não se distrair com as ninfas? Como não se amedrontar com as sombras?

Encontrar essa exata medida, entre nós e o caminho, já é, em si, uma trajetória. Percorrê-la é doloroso. Confrontar-se dá trabalho, nem todo mundo está disposto. Seja qual for o caminho, a beleza, a distração das ninfas, o medo das sombras... a única verdade absoluta é a de que o percorremos sozinhos. Só a nós mesmos interessa, de fato, o destino final. É só a partir dessa constatação que qualquer retorno se torna provável.


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