sábado, 22 de junho de 2013

Com a Palavra: No coração das multidões




Acabei de chegar da lapa...
Eu presenciei CADA momento da manifestação de hoje, UERJ, Avenida Getúlio Vargas, Cinelândia e por fim, a lapa. Desde a manifestação pacifica até a zona de guerra. Andei até o maracanã, lutei no maracanã. Corri na Cinelândia, levei gás lacrimogênio em todo o trajeto. Tudo que presenciei, tudo que vi, tudo que vivi, covardia, medo e coragem, crueldade e paixão, vi um povo inconformado e policias apavorados, chorei quando jogavam gás e sorri quando caminhávamos pacificamente, me preocupei com pessoas que nunca vi na minha vida. Temi pela liberdade que a muito nos foi tomada. Eu vi que os policias tem mais medo do povo do que o povo dos policias, quando avançamos eles tremiam, quando fugíamos do gás eles ficavam aliviados.

Em duas semanas fizemos mais que muitos tentaram em 20 anos.

Atiraram contra civis com balas de verdade, eu vi policias passando de moto e atirando em pessoas, mesmo depois do fim dos protestos.

Só espero que todos saibam, nós temos menos medo de balas de borracha e de gás lacrimogênio do que eles tem do povo, da vontade de mudar o Brasil, o mundo! A todos os que participaram seja andando, lutando, enfrentando todos aqueles policias, todos os militares, ou que ajudaram divulgando nossas ideias, os eventos, tudo: OBRIGADO, o Brasil vai mudar, isso é a única promessa que posso lhes fazer, não sei como, não sei o que, mas o Brasil vai mudar.

Por Gabriel Romero

sexta-feira, 21 de junho de 2013

E seguem, diárias, as manifestações por aí...

Nos últimos tempos a História se deslocou numa dimensão espaço tempo de fluidez esguia e cidadania arisca. Fato é que as coisas estão num ritmo tão acelerado que o trabalho intelectual não consegue acompanhar. Cito novamente meu querido Alex Castro:

"muita gente tá afirmando não entender nada. aliás, quase todo mundo.
isso é normal de qualquer grande momento histórico e é justamente isso que me faz pensar que estamos vivendo um grande momento histórico.

afinal, vocês acham mesmo que o povo que fez a revolução francesa tava entendendo alguma coisa? foi tudo entendido a posteriori."

O que está acontecendo é, sim, grandioso! É dos episódios mais emocionantes que esse país já viu. Não deixe que o desacreditem antes mesmo que termine de lançar bases. Sem esperança o homem nunca chegou a lugar nenhum. Mais do que uma manifestação política trata-se de uma revolução cultural. Não é necessário se afiliar a nenhum grupo, sociedade civil organizada ou algo que o valha. Acredito que a verdadeira revolução desse país tem que vir de dentro de nós. Assim, são muitas as formas de contribuir para esse movimento, essas são só algumas:

- Seja honesto e ético, sempre.
- Exija que seus direitos sejam cumpridos
- Militância na internet também conta. 
- Coloque seus dizeres na janela, edite imagens e crie seu cartaz virtual, seja criativo. 
- Seja democrático, saiba ouvir e debater ideias e argumentos, com respeito às diferenças. 

Mais uma vez, prefiro selecionar textos que abordem todas essas questões que agora se impõe. 


Abaixo o vídeo em que os policiais se sentam com os manifestantes em SP. 





Em Teófilo Otoni a polícia mandou a banda de música!



E o Pelé perdeu mais uma ótima oportunidade de ficar quieto...


Ranking da corrupção por partido - TSE

E Romário ganhou mais uma de fazer bonito como político, sem "papas calientes" na língua:



Para quem lê inglês o The Economist parece ter entendido tudo que a imprensa brasileira opta por não entender:

The streets erupt



sexta-feira, 14 de junho de 2013

Sem palavras, ou tantas palavras



Hoje eu não digo nada. 
São tantas as palavras engasgadas ou mesmo já cuspidas que parece que se aglomeram na garganta para sair, e entalam na saída. Se conseguissem desentalar, sairiam desornadamente, sem fazer sentido até. 
Então hoje me limito a não falar, não gritar, não cuspir essas tantas palavras. Deixo que as palavras de tantos outros, que saíram tão belamente organizadas, falem também por mim. 

A gota que faltava

Em SP vinagre dá cadeia

O sopro de primavera antes da festa da FIFA

24 momentos do protesto em SP que você não verá na TV

Uma virada na cobertura

Graças à PM movimento agora é por um pais livre

Milhares já escolheram os sapatos que não vão apertar


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Com a Palavra: Mil Mulheres




Dentro de você, menina, escondem-se mil mulheres
De tantas vidas, tantas épocas, difícil saber quem é.
Mas você pode ser tudo da distância dos seus pés ao infinito

Os loucos são os que mais enxergam a realidade.
Não procure por definições, o que você é, está dentro apenas de você
Um caos
Uma delicadeza
Sabemos que tudo tem sua beleza

Texto e Foto: Clarisse Rezende

terça-feira, 4 de junho de 2013

Cidadania às avessas

Ok. Tudo bem, eu falo. Juro que não tive a menor vontade de falar sobre o episódio das pancadas do prefeito. Mas como conheço alguns dos envolvidos e, por isso, andei lendo declarações estapafúrdias naquela rede social super-pop... não vou resistir à análise de alguns pontos: 



1- O prefeito.

Esse está errado do início ao fim. Sabemos das falcatruas, das panelinhas de empresários, do dinheiro lavado com obras de consórcios duvidosos, da proteção à determinados bairros em detrimento de outros, enfim. Vivemos na cidade e vivemos a arbitrariedade diária, cotidiana, desse senhor. 

Política é uma carreira pública por definição. Sempre defendi que aqueles que optam por serem famosos em qualquer seara tem responsabilidade maior. São os "ossos do ofício", cada um tem os seus. O único espaço privado dessas vidas, digamos assim, é no local considerado privado por definição legal, ou seja, a casa. Então esse papo de "minha vida privada" num restaurante ou no meio fio cai por terra. Se fosse um jantar na casa de um amigo, quem sabe, talvez, esse "papinho"  fosse aceitável...

De todo modo, assessorado ou não, foi o único até agora que parece ter reconhecido o erro e, principalmente, compreendeu a hora de certa de parar.


2- Botika & Ana Maria

Com relação ao fato em si, vacilaram.

Sim, se eu encontrasse o Eduardo Paes com certeza o xingaria. Quiçá no calor do momento, depois de alguns saquês, eu até cuspisse na cara ou no prato dele, se tivesse a oportunidade. Mas uma xingada, assim, motivada pela revolta, estaria de bom tamanho. Afinal é muito incoerente defender a democracia e não respeitar o pleito. Com esse argumento eu concordo totalmente!

Mas eles exageraram, pecaram pelo excesso... Nesse caso o excesso da virtude transformou-a em vício. Mas até aí, acontece toda hora, não? O que me deixa confusa nessa história é a crítica em si. Não houve crítica, argumento real, só... xingamentos? 

Fico ainda mais confusa pois, mesmo não conhecendo "de perto" (até por que acho a banda dele chata mesmo) sei que ele faz parte de uma elite cultural carioca cheia de amigos no governo e que, curiosamente, vive abocanhando os famigerados editais, curadorias, etc. Quem acompanha as políticas culturais sabe que os espaços da cidade estão reservados para o grupo que tem os amigos certos. Ou seja na prática a teoria é outra? 
Ou nas palavras de Maurício Gouveia: 

"essa é a patota sempre privilegiada pelo status quo: os projetos deles entram nos editais, são convidados para gerir centros culturais da Prefeitura, recebem facilmente autorização para shows em locais públicos, são vizinhos (de casa ou de mesa de bar) dos principais jornalistas e tudo o que fazem recebem uma p... cobertura maneira do Globo."

E até aí, o erro dos dois, além dessa incoerência intrínseca, foi continuar não sabendo a hora de parar e de não parar. Fizeram a queixa apenas da agressão sofrida pela moça. Segundo Botika, socos não deixam marcas (?!), ou o punho do prefeito anda meio frouxo...

Em seguida, voltam atrás e retiram a queixa. A justificativa? Isso seria algo a ser resolvido na esfera política e não criminal. Seria, de fato, se o músico tivesse caído em si de que sua motivação, mesmo que tenha sido política, não chegou a ser explicitada, uma vez que ele apenas xingou o prefeito. Não houve argumento político, portanto. O que aconteceu, foi sim, apenas um crime de agressão, não um ato político. Da próxima vez, melhor respirar fundo, contar até dez, e debater ao invés de apenas proferir vários palavrões. Do contrário, a boa intenção se esgota antes mesmo de se concretizar.


3- Francisco Bosco

O jornalista tem todo o direito de ir jantar com quem quiser e votar em quiser. Mas não venha com esse papo de sentar para debater divergências ideológicas num dos restaurantes mais caros da cidade num domingo à noite. Não me venha dizer que o prefeito, à despeito de tudo que essa administração já fez com a população, é um cara legal por que colocou um quebra-molas na SUA rua atendendo à um pedido pessoal SEU depois de um comício caseiro em SUA residência. O que você quis dizer? Que é um grande cidadão por que a única vez que pediu algo ao prefeito, que já foi recebido em sua casa para divulgar suas idéias depois de 4 anos de governo, foi pelo bem público do Jardim Botânico? 

Tenho menos a prática da política do que gostaria, talvez por insegurança, mas adquiri alguma. Claro que converso com gente de quem discordo, alguns até respeito profundamente. Na faculdade fiz amigos inclusive entre a Juventude Monárquica Cristã. Mas bandido é diferente. Com bandido que ocupa cargo público, o debate se dá em casa pública, de acordo com a necessidade. 

Uma coisa é divergir ideologicamente, outra é ser amigo pessoal de quem rouba nosso dinheiro, superfatura obra para depois vender o espaço público para o interesse privado e que passa por cima da competência profissional para privilegiar com cargos comissionados os "ADA". É justamente essa flexibilização da ética que nos conduz por esses caminhos escusos, os quais depois culpamos por toda a nossa falta de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Defender sua postura de sentar-se para jantar junto com um político-bandido, mesmo que democraticamente eleito - Afinal falamos de um povo, que você que se coloca como um "intelectual" deve saber que, nem sempre, ao votar toma uma decisão política de fato. Falamos de um sistema eleitoral que por meio de financiamento privado de campanhas compromete o erário público à priori, que o jornalista, enquanto intelectual, certamente conhece, não? - dizendo estar num restaurante "caro", diga, foi uma ironia, certo? E mesmo tendo minhas questões pessoais com Ana Maria se você tem a liberdade de sentar-se com o alcaide, de flexibilizar a sua ética, por que não tem a moça o direito de discordar no FB dela?! Ou o direito de expressão só funciona para você?

No entanto, na semana que se seguiu ao ocorrido, o jornalista de linhagem também nobre, utilizou o espaço de sua coluna para, mais uma vez, comentar o ocorrido e defender uma postura que o próprio autor diz não ter de justificar... confuso pacas! Confuso também ficou o texto de tão empolado pela alardeada intelectualidade do autor, alardeada principalmente por ele mesmo. Aposto que a maioria que chegou até o fim, leu e não entendeu. Tudo poderia ser dito de forma culta, sim, mas clara e em muito menos linhas.

Esse foi o que mais perdeu a oportunidade de ficar calado, mais que o Botika, até. Para mim o que fica de Francisco Bosco é a desconfiança. Desconfio, sim, de quem é amigo pessoal do prefeito ou topa sê-lo enquanto o último exerce o mandato. Pois nesse caso, não se trata de discordâncias ideológicas ou estratégicas, trata-se de uma questão ética e moral. Desconfio de pessoas com menos de 80 anos que se autoproclamam "intelectuais". Acredito que o verdadeiro intelectual, pela natureza do conceito, seja aquele que quanto mais se torna intelectual, mais percebe o tamanho do universo que desconhece. Menos afirma e mais ouve. O verdadeiro intelectual quanto mais cultura e conhecimento tem, mais sabe que nada sabe. O resto é pura arrogância. 

4- Parabéns ao único anônimo, o único do "povo" dessa história: o segurança. 

Pois bem. O cara fez o seu trabalho, ou pelo menos tentou. O fato de o segurança ser do prefeito e ser pago com nosso dinheiro não se dá em razão do Eduardo Paes, e sim do cargo. A segurança de uma figura política como a dele é para garantir a democracia. Garantir que aquele escolhido pela maioria tenha liberdade para exercer seu trabalho, mesmo que a gente não concorde com o trabalho feito. 

Em resumo: Errou o músico e a namorada pelo exagero e pela incoerência, errou o jornalista por flexibilizar sua ética e pela intelectualidade de gabinete que o afastou da precisão dos conceitos, errou o prefeito por perder a cabeça e agir como um zé mané qualquer, brigão. Errei eu, por acabar comentando longamente o episódio. Acertou o segurança que mesmo que tenha exagerado na força - será que os joelhos estavam ralados ou "sangrando" - ateve-se à sua função. 

Moral da História: Democracia se faz com participação política. Quem conhece um pouquinho a CFB/88, sabe que há meios mais efetivos para se lutar contra àqueles que governam em benefício próprio. E quem usa a razão, sabe que debater idéias é bem mais produtivo do que xingar a mãe.

Alguma pergunta? 
Sim, uma que não quer calar... Afinal, o que terá acontecido REALMENTE para indivíduos, até então beneficiados por financiamentos e cargos na prefeitura atual, depois de alguns saquês, caírem em tamanho destempero?  Mais uma fofoca da côrte que não chegara até nós, plebeus.