terça-feira, 4 de junho de 2013

Cidadania às avessas

Ok. Tudo bem, eu falo. Juro que não tive a menor vontade de falar sobre o episódio das pancadas do prefeito. Mas como conheço alguns dos envolvidos e, por isso, andei lendo declarações estapafúrdias naquela rede social super-pop... não vou resistir à análise de alguns pontos: 



1- O prefeito.

Esse está errado do início ao fim. Sabemos das falcatruas, das panelinhas de empresários, do dinheiro lavado com obras de consórcios duvidosos, da proteção à determinados bairros em detrimento de outros, enfim. Vivemos na cidade e vivemos a arbitrariedade diária, cotidiana, desse senhor. 

Política é uma carreira pública por definição. Sempre defendi que aqueles que optam por serem famosos em qualquer seara tem responsabilidade maior. São os "ossos do ofício", cada um tem os seus. O único espaço privado dessas vidas, digamos assim, é no local considerado privado por definição legal, ou seja, a casa. Então esse papo de "minha vida privada" num restaurante ou no meio fio cai por terra. Se fosse um jantar na casa de um amigo, quem sabe, talvez, esse "papinho"  fosse aceitável...

De todo modo, assessorado ou não, foi o único até agora que parece ter reconhecido o erro e, principalmente, compreendeu a hora de certa de parar.


2- Botika & Ana Maria

Com relação ao fato em si, vacilaram.

Sim, se eu encontrasse o Eduardo Paes com certeza o xingaria. Quiçá no calor do momento, depois de alguns saquês, eu até cuspisse na cara ou no prato dele, se tivesse a oportunidade. Mas uma xingada, assim, motivada pela revolta, estaria de bom tamanho. Afinal é muito incoerente defender a democracia e não respeitar o pleito. Com esse argumento eu concordo totalmente!

Mas eles exageraram, pecaram pelo excesso... Nesse caso o excesso da virtude transformou-a em vício. Mas até aí, acontece toda hora, não? O que me deixa confusa nessa história é a crítica em si. Não houve crítica, argumento real, só... xingamentos? 

Fico ainda mais confusa pois, mesmo não conhecendo "de perto" (até por que acho a banda dele chata mesmo) sei que ele faz parte de uma elite cultural carioca cheia de amigos no governo e que, curiosamente, vive abocanhando os famigerados editais, curadorias, etc. Quem acompanha as políticas culturais sabe que os espaços da cidade estão reservados para o grupo que tem os amigos certos. Ou seja na prática a teoria é outra? 
Ou nas palavras de Maurício Gouveia: 

"essa é a patota sempre privilegiada pelo status quo: os projetos deles entram nos editais, são convidados para gerir centros culturais da Prefeitura, recebem facilmente autorização para shows em locais públicos, são vizinhos (de casa ou de mesa de bar) dos principais jornalistas e tudo o que fazem recebem uma p... cobertura maneira do Globo."

E até aí, o erro dos dois, além dessa incoerência intrínseca, foi continuar não sabendo a hora de parar e de não parar. Fizeram a queixa apenas da agressão sofrida pela moça. Segundo Botika, socos não deixam marcas (?!), ou o punho do prefeito anda meio frouxo...

Em seguida, voltam atrás e retiram a queixa. A justificativa? Isso seria algo a ser resolvido na esfera política e não criminal. Seria, de fato, se o músico tivesse caído em si de que sua motivação, mesmo que tenha sido política, não chegou a ser explicitada, uma vez que ele apenas xingou o prefeito. Não houve argumento político, portanto. O que aconteceu, foi sim, apenas um crime de agressão, não um ato político. Da próxima vez, melhor respirar fundo, contar até dez, e debater ao invés de apenas proferir vários palavrões. Do contrário, a boa intenção se esgota antes mesmo de se concretizar.


3- Francisco Bosco

O jornalista tem todo o direito de ir jantar com quem quiser e votar em quiser. Mas não venha com esse papo de sentar para debater divergências ideológicas num dos restaurantes mais caros da cidade num domingo à noite. Não me venha dizer que o prefeito, à despeito de tudo que essa administração já fez com a população, é um cara legal por que colocou um quebra-molas na SUA rua atendendo à um pedido pessoal SEU depois de um comício caseiro em SUA residência. O que você quis dizer? Que é um grande cidadão por que a única vez que pediu algo ao prefeito, que já foi recebido em sua casa para divulgar suas idéias depois de 4 anos de governo, foi pelo bem público do Jardim Botânico? 

Tenho menos a prática da política do que gostaria, talvez por insegurança, mas adquiri alguma. Claro que converso com gente de quem discordo, alguns até respeito profundamente. Na faculdade fiz amigos inclusive entre a Juventude Monárquica Cristã. Mas bandido é diferente. Com bandido que ocupa cargo público, o debate se dá em casa pública, de acordo com a necessidade. 

Uma coisa é divergir ideologicamente, outra é ser amigo pessoal de quem rouba nosso dinheiro, superfatura obra para depois vender o espaço público para o interesse privado e que passa por cima da competência profissional para privilegiar com cargos comissionados os "ADA". É justamente essa flexibilização da ética que nos conduz por esses caminhos escusos, os quais depois culpamos por toda a nossa falta de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Defender sua postura de sentar-se para jantar junto com um político-bandido, mesmo que democraticamente eleito - Afinal falamos de um povo, que você que se coloca como um "intelectual" deve saber que, nem sempre, ao votar toma uma decisão política de fato. Falamos de um sistema eleitoral que por meio de financiamento privado de campanhas compromete o erário público à priori, que o jornalista, enquanto intelectual, certamente conhece, não? - dizendo estar num restaurante "caro", diga, foi uma ironia, certo? E mesmo tendo minhas questões pessoais com Ana Maria se você tem a liberdade de sentar-se com o alcaide, de flexibilizar a sua ética, por que não tem a moça o direito de discordar no FB dela?! Ou o direito de expressão só funciona para você?

No entanto, na semana que se seguiu ao ocorrido, o jornalista de linhagem também nobre, utilizou o espaço de sua coluna para, mais uma vez, comentar o ocorrido e defender uma postura que o próprio autor diz não ter de justificar... confuso pacas! Confuso também ficou o texto de tão empolado pela alardeada intelectualidade do autor, alardeada principalmente por ele mesmo. Aposto que a maioria que chegou até o fim, leu e não entendeu. Tudo poderia ser dito de forma culta, sim, mas clara e em muito menos linhas.

Esse foi o que mais perdeu a oportunidade de ficar calado, mais que o Botika, até. Para mim o que fica de Francisco Bosco é a desconfiança. Desconfio, sim, de quem é amigo pessoal do prefeito ou topa sê-lo enquanto o último exerce o mandato. Pois nesse caso, não se trata de discordâncias ideológicas ou estratégicas, trata-se de uma questão ética e moral. Desconfio de pessoas com menos de 80 anos que se autoproclamam "intelectuais". Acredito que o verdadeiro intelectual, pela natureza do conceito, seja aquele que quanto mais se torna intelectual, mais percebe o tamanho do universo que desconhece. Menos afirma e mais ouve. O verdadeiro intelectual quanto mais cultura e conhecimento tem, mais sabe que nada sabe. O resto é pura arrogância. 

4- Parabéns ao único anônimo, o único do "povo" dessa história: o segurança. 

Pois bem. O cara fez o seu trabalho, ou pelo menos tentou. O fato de o segurança ser do prefeito e ser pago com nosso dinheiro não se dá em razão do Eduardo Paes, e sim do cargo. A segurança de uma figura política como a dele é para garantir a democracia. Garantir que aquele escolhido pela maioria tenha liberdade para exercer seu trabalho, mesmo que a gente não concorde com o trabalho feito. 

Em resumo: Errou o músico e a namorada pelo exagero e pela incoerência, errou o jornalista por flexibilizar sua ética e pela intelectualidade de gabinete que o afastou da precisão dos conceitos, errou o prefeito por perder a cabeça e agir como um zé mané qualquer, brigão. Errei eu, por acabar comentando longamente o episódio. Acertou o segurança que mesmo que tenha exagerado na força - será que os joelhos estavam ralados ou "sangrando" - ateve-se à sua função. 

Moral da História: Democracia se faz com participação política. Quem conhece um pouquinho a CFB/88, sabe que há meios mais efetivos para se lutar contra àqueles que governam em benefício próprio. E quem usa a razão, sabe que debater idéias é bem mais produtivo do que xingar a mãe.

Alguma pergunta? 
Sim, uma que não quer calar... Afinal, o que terá acontecido REALMENTE para indivíduos, até então beneficiados por financiamentos e cargos na prefeitura atual, depois de alguns saquês, caírem em tamanho destempero?  Mais uma fofoca da côrte que não chegara até nós, plebeus.








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