sexta-feira, 31 de maio de 2013

Com a Palavra: Ruídos Urbanos



Algo que explode se expande dentro de mim
São palavras jogadas que aliviam minha mente
Vida corrida, cabeça conturbada, mente sempre fluindo
Sentada no ônibus vejo o terror passar
Tantos ruídos fazem com queira me isolar

Não é covardia, é sobrevivência
Prefiro meu mundo particular
Eles falam, falam e não dizem nada
às vezes quero ficar quieta,
às vezes preciso gritar
Tanta violência gratuita...
Gentileza, ninguém faz

Dai-me um motivo para não surtar
Chamam-me de louco mas sou o único com ideais
Rico sou eu, que tenho a imensidão dentro de mim
Que só preciso de papel e caneta para viajar

Que evolução é essa em que o homem  desaprendeu a amar?

Texto e Foto: Clarisse Rezende

terça-feira, 28 de maio de 2013

De onde fala?

Zé Celso Martinez - Teatro Oficina

Todos nós falamos de algum lugar quando falamos de qualquer coisa. Sempre que damos uma opinião, seja ela embasada ou não, falamos de um dos muitos lugares físicos, sociais e cronológicos que ocupamos concomitante e alternadamente. Falamos no lugar de pais e de filhos, patrões e empregados, de classe ou de categorias, classe média em relação às baixas ou às altas, enfim.

Faz diferença nascer no morro ou no asfalto? Na Ásia ou na Europa? Será que temos as mesmas possibilidades de sonhar, ou expectativas reais, sendo brasileiros, que teríamos sendo noruegueses? Claro que não. O lugar, concretamente, não determina, mas influencia escolhas, decisões e trajetórias.

Com os grupos sociais não é diferente. Por mais que se tente sair desses lugares que ocupamos socialmente, estamos sempre um pouquinho presos a esse ângulo de visão. E por isso é natural que as minorias enxerguem opressões onde não vemos. Por isso, aquilo que simbolicamente não tem importância para um grupo, parece uma questão vital para o outro. Assim, o termo "preto" pode parecer uma bobagem para o branco e uma ofensa grave para o negro; uma piada machista seja intolerável para uma mulher; um crucifixo numa casa pública seja injustificável para um ateu.

Se é praticamente impossível nos despirmos de nosso tempo, classe social, cultura, religião etc. O que fazer? Ser parcial mesmo e... dane-se? Sair por aí despejando minhas verdades pelas ruas? Acredito que a melhor opção é ouvir, com mais atenção, o que descreve aquele que ocupa outro lugar e, portanto, observa tudo de outro ângulo. Também não é absoluta a verdade do outro, é apenas mais uma parte que compõe o todo.

Estar consciente desse processo também é uma ótima forma de conseguir uma visão mais panorâmica. Entre as mais ilimitadas das capacidades humanas está a incoerência. E é muito comum que ela se manifeste quando esquecemos de onde estamos analisando a questão.

Se o Mr Catra fala de sexo de uma forma escrachada, de baixo calão, é ferozmente criticado. Mesmo que ele tenha uma origem, negra, pobre, de exclusão, sem acesso à educação e à bens culturais ditos de "qualidade". Por outro lado, se as mesmas palavras são ditas pelo Lobão, por exemplo, as pessoas aplaudem e o sujeito se afirma como libertário, revolucionário anti hipocrisia burguesa, ou sei-lá-o-que. Só a elite sabe escrachar? Apenas os "meio intelectuais, meio de esquerda", para citar o Bar Ruim de Antônio Prata - Bar ruim é lindo, bicho! -  sabem a exata medida em que o suposto espírito libertário se transforma em pura e simples vulgaridade?

O cara que não teve acesso ao que a elite teve, usa as ferramentas que possui para se expressar, e o que ele faz é um lixo. Por outro lado, o filho da elite econômica e/ou letrada faz o mesmo, jogando fora tudo que adquiriu, tudo a que teve acesso, e é um gênio! Se a cena é no "Porta dos Fundos" é engraçadíssimo, se é no "Zorra Total" é de péssimo gosto.

Na minha opinião, vulgaridade é vulgaridade e ponto. Não importa de onde venha, ou melhor, importa, sim. Que ela venha da "massa de excluídos" eu até posso entender. As pessoas tem direito de optarem por esse caminho? Sim, sem dúvidas. Assim como ninguém é obrigado a gostar. E isso não tem nada haver com ser conservador ou não. Mas que as coisas fiquem claras, que não se dê outros nomes a esses bois.

Ser conservador é negar o direito à vulgaridade, digamos assim. Isso é muito diferente de gostar ou não. Eu jamais vestiria determinadas roupas. Não gosto. É diferente de julgar as capacidades e lealdades de quem as usa por isso. Mas, toda a caretice que se esconde por baixo de discursos que são superficialmente "libertários", a gente discute em outra publicação por aqui...

Mr Catra - Tabajaras

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Com a Palavra: "O Maraca agora fica em RJ-X"




Passando um dia desses pelo Maracanã, me recordei das várias vezes em que fui assistir a uma partida de futebol. Já faz uns bons três anos que o Maracanã está em reforma e vagamente me lembro de uma partida, Flamengo X Fluminense, particularmente uma das melhores que já assisti. Todos em clima de competição com muita gritaria. Todos em um só, Maracanã, cheio, um clássico! Fla x Flu, e as duas torcidas em uma só gritavam: 

HA HA HU HU O MARACA É NOSSO, HA HA HU HU.

Quando observei novamente o tal Maracanã em reforma, bateu aquela tristeza em ver que o tal "Maraca" não é mais nosso! Outro dia, no Jornal O Globo, li que a licitação feita pela empresa EBX do Eike Batista foi aprovada, existe maior tristeza que essa? Se ao menos a população acordasse e percebesse que todo o dinheiro para a reforma saiu dos nossos bolsos, e esse patrimônio está sendo vendido por menos da metade de todo o dinheiro gasto. Isso é uma vergonha, uma vergonha pessoal e alheia. 



Talvez daqui a 35 anos, quando o contrato acabar, poderemos voltar a cantar que o Maraca é nosso.



Por: Yasmin Barreto

terça-feira, 21 de maio de 2013

Quando foi que a juventude envelheceu?



Na última semana, fui ver o famigerado filme "Somos Tão Jovens" - e que ainda não entendi se pretendia contar a história do Renato ou da Legião - de modo geral os comentários eram de que o filme era ruim. 

Mal havia me sentado na cadeira quando a música de abertura começou, mostrando fotos de infância e adolescência do ídolo. Nesse momento, eu já chorava de soluçar. Enquanto passavam os nomes de patrocinadores e a ficha técnica, passavam também por minha cabeça memórias e questionamentos. E corriam, sem parar, as lágrimas... 

Lembrei das "bateções de panela" nas "Diretas Já". Da primeira eleição presidencial, da queda do muro de Berlim, e dos amigos comunistas do meu avô com aquela cara consternada pensando "o sonho acabou", da infância em Angola, do incrível ano de 1988. 

Meu primeiro contato com o rock nacional, foi em 1985 - o ano da redemocratização - ganhei do meu irmão um disco chamado "Over Doze". Era uma compilação de 12 hits da época. Lá estavam Barão, Eletrodomésticos, Léo Jaime, Camisa de Vênus, etc. Mas, foi entre 87 e 88, na época com 8 ou 9 anos de idade que descobri a Legião Urbana. Primeiro o disco "Dois", em seguida "Que país é esse", meu preferido até hoje. A partir daí foi um tal de fitas k7 gravadas e trocadas entre amigos, enquanto a indústria fonográfica entrava em pânico com as reproduções, exatamente como aconteceu depois com o MP3.

Lembro do encantamento com aquelas letras que comparavam o Senado às favelas, que falavam da pseudo burguesia brasiliense e daqueles que "assistiam a tudo de cima do muro" por todo o Brasil. Ouvia aquilo o dia todo, cantava junto me emocionando de verdade. Pensava no meu país, a um oceano de distância, que elaborava sua Constituição. Sentíamos uma esperança tão grande, teríamos novamente direitos e garantias, seríamos finalmente cidadãos. 

Os efeitos do retorno à democracia já se faziam sentir, uma vez que era possível se criticar o governo, o sistema, os esquemas, sem tanta "tesourada" da censura. Durante tanto tempo nossos artistas foram obrigados a elaborar metáforas para dizer o que estava entalado em tantas gargantas por aí. Agora, era possível colocar tudo isso para fora - "cuspir de volta o lixo em cima de vocês" - e todo mundo queria colocar a boca no trombone, na megafone, no microfone. 

E depois dessa viagem inicial pelo "túnel do tempo", com as lágrimas ainda escorrendo aos borbotões, caí numa espécie de vazio. Procurava nos meus arquivos mentais, quem da década de '90 para cá ainda compunha com algum viés político. Não encontrei nenhum registro. E sim, é claro, adoro uma arte engajada.

A essa altura você provavelmente está discordando. Talvez citando mentalmente como exemplo a Nação Zumbi ou o O Rappa. Sim, sem dúvida são exemplos de engajamento. Mas falam de locais muito específicos, e muitas vezes sem perceber, vitimizam ainda mais a miséria. Uma coisa é compor sobre a realidade, sobre a miséria, sobre o grupo oprimido seja ele qual for. Outra diferente é falar da apatia de quem "tem o queijo e faca na mão" e, ou se conformou, ou não se importa. Se há algum espaço para o idealismo na trajetória de uma vida, está na juventude. Quando a juventude deseja apenas fazer parte do sistema, quando desistiu à priori, que esperança sobra? 

Fiquei pensando... Quando foi que a juventude envelheceu, burocratizou-se? Quando foi que a essência transformadora e definidora dessa fase da vida "desbundou", alienou-se de vez? Quando foi que os jovens deixaram de criticar o sistema e passaram a sonhar fazer parte dele? Terá sido quando o rock nacional saiu do Fantástico para dar lugar aos "pega no bumbum" da vida? - e nem falo da forma, mas do conteúdo mesmo - Ou fui eu que envelheci, e como acontece com a maioria, perdi as esperanças? Sempre que direitos são conquistados, deixamos de saborear as conquistas e sentamos no sofá para assistir o JN? 

Os questionamentos rondaram minha cabeça ao longo do filme que, exceto as atuações de Thiago Mendonça e Laila Zaid, é realmente ruim, vago, fraco. E, quando entra a última cena, a última música, desandei a chorar novamente. 

Novamente pelas lembranças felizes da infância e por perceber que nesses momentos, do fim dos anos '80, enquanto eu ouvia "Que país é esse?", analisava e cantava alto, pela força do quanto acreditava naquelas palavras, eu me formava e me encontrava. Chorei por perceber que a história desse cara, que eu sigo admirando muito, faz parte da minha história, daquilo que fez de mim o que sou hoje. 

E se sigo lutando, mesmo diante de tantas adversidades, de uma bela Constituição que ninguém respeita ou lê, da quantidade de gente de todas as idades que desacredita cada iniciativa, cada movimento antes até de existir de fato, que ri do meu idealismo, que denomina a militância de "raivosa" e seus discursos de "lixo político", talvez seja pelo fato de que, um dia, um menino brasiliense "me ensinou quase tudo que eu sei"... e com certeza, nada nesses 25 anos foi "Tempo perdido". "Ainda é Cedo" para dar a luta por vencida, afinal... "somos tão jovens" e sempre seremos... mesmo que apenas no coração revolucionário. 















sexta-feira, 17 de maio de 2013

Olhares - Violência













Foto e  edição:  Gabriela Marinho
Trabalho: "Olhares - Redescobrindo nossos caminhos."

terça-feira, 14 de maio de 2013

Eu vos declaro... Felizes!



O "casamento gay" foi reconhecido no Rio. Ponto para nós, cariocas, concorde ou não você com a matéria em si. Por matéria entende-se o tema, objetivamente, da questão que é: casais formados por indivíduos do mesmo sexo poderem casar , e não se você acha certo ou "natural" que eles existam. O tomate que comemos não é exatamente "natural", mas... 

Se pararmos para pensar, há elementos no ser humano que categorizamos como sendo "naturais" e que recriminamos, como o preconceito, por exemplo. Há conceitos como a ética e a moral, que são valorizadas pela sociedade. É... difícil às vezes explicar racionalmente aquilo que simplesmente sentimos. E como discutir o que é ou não natural, diante das elaborações da racionalidade humana? 

Se sentimos, apenas, é de foro privado certo? É nosso. Então, em tese, interessa só a nós e a um ou outro amigo, com quem tenhamos mais tempo para conversar. E bastaria que nós, vivêssemos de acordo com as nossas convicções, (mais uma vez, acompanha um pronome PESSOAL, note bem). Assim como não deveria ser do meu interesse o casamento da moça que senta ao meu lado no ônibus. Então por que se importar? 

Importo-me na medida em que acredito, por princípio, que a sexualidade dos outros, contanto que respeite os direitos humanos e o código penal, não são assunto meu. Portanto, qualquer um tem o mesmo direito civil que eu. Por outro lado o direito ao contrato civil do casamento tem implicações práticas na vida dos homossexuais: plano de saúde, herança, título de clube, etc. Na minha, não.

Se o preconceito é natural no ser humano, a tolerância é a elaboração ética da razão. É a esse exercício que devemos dedicar o tempo. Sempre "não gostaremos" de algum grupo, mas é necessário conviver. E conviver é reconhecer que tem os mesmos direitos, e que, como para todas as nossas outras convicções, essa também possui exceções. E que se EU não gosto, trata-se de um problema individual MEU, certo?

É necessário que se entenda que por melhor que seja a retórica de quem fala, ampliar direitos à um grupo que, diferentemente de todos os outros nunca os teve, é o contrário de dar privilégios. Quando se privilegia se negam direitos a todos os grupos, exceto claro, a categoria beneficiada. É um ato excludente. Se os direitos antes negados a um grupo e permitidos à outros, são ampliados e passam a valer para todos, trata-se de promoção de igualdade.

Acredito que o preconceito é o elemento que há de mais natural nessa discussão. Sempre haverá um grupo que não compreenderemos, não aceitaremos ou rejeitaremos à priori. Mas é necessário que se tenha em mente que o que sentimos não é racional. Uma sociedade em que cada indivíduo "aceite" todos os estilos de vida, pontos de vista, não é utópica. Haver consenso significa que não há ninguém questionando, isso não é positivo para o desenvolvimento social. No entanto uma sociedade que se orienta coletivamente por princípios legais e racionais e não pelas paixões individuais, é uma sociedade mais justa, mais igual, melhor.

Há tantas regras criadas que não tem impacto real em nossas vidas e para as quais não damos, por isso mesmo, atenção. Há outras, no entanto que modificam diretamente nossa qualidade de vida, e não fazemos nada contra.

Aproveita mais a vida que entende que não é preciso gostar ou concordar para respeitar. Mas, esse é o tipo de coisa que se leva a vida inteira exercitando...



sexta-feira, 10 de maio de 2013

Nós Latinos Americanos - Filmes



O cinema latino americano tem trazido boas surpresas. Filmes em geral com poucas locações, porém muita riqueza em roteiros. Essa riqueza está justamente na simplicidade e universalidade dos temas. Tem havido também co-produções brasileiras das quais quase não se houve falar. 

Naturalmente que as produções do chamado "Cone Sul", numa alusão à forma da porção mais ao sul da região, chegam com maior facilidade às telas. O cinema Argentino em especial tem conquistado um maior espaço aqui e nos brindado com todas as emoções, dos olhos arregalados de medo e suspense aos marejados pelo lirismo das cenas. 

Abaixo uma lista de filmes que tem encantado meus olhos nos últimos tempos por ordem de "brainstorm":

- Las Viudas de los Jueves (Arg)
 (Viúvas às 5ªf)
2009, direção de Marcelo Piñyero.

Num condomínio de luxo, às vésperas da quebra da economia do país, um grupo de amigos é encontrado morto na piscina de uma das casas. A investigação trás à tona o lado oculto da alta sociedade argentina prestes a ruir. 



- La Casa Muda (Arg)
2010, direção de Gustavo Hernandéz 
Filme de terror baseado em fatos reais. Imperdível!!! Destaque para os efeitos centrados em jogos de espelhos e luz. O filme foi rodado em 4 dias e custou US$ 6.000!!!




- O Homem ao Lado (Arg)
2009, direção de Gaston Duprat e Mariano Cohn

Premiado pelo mundo afora o filme é uma crítica bem humorada, melhor descrita no link: Crítica de "O Homem ao Lado"



- Um Conto Chinês (Arg)

2011, direção de Sebastián Borensztein

Uma comédia inteligente sobre um chinês que literalmente cai do céu na vida de um homem metódico na Argentina. 


terça-feira, 7 de maio de 2013

Com a Palavra: Depois de um “1º de abril”... mais um “1º de Maio”...



Numa quarta-feira comemoramos mais um 1º de Maio, dedicado aos braços fortes do mundo inteiro, que se movem todos os dias gerando lucros a quem os emprega. E as comemorações foram vastas... No Brasil, tivemos corridas e caminhadas no Nordeste, shows no Noroeste paulista e entre outras atrações. Aliás, é feriado...

 Ao redor do mundo, esse feriado foi encarado de forma bem diferente. Centenas de movimentos foram organizados em prol de uma valorização maior ao trabalhador, questionando-se as políticas de governos vigentes em certos países e suas crises financeiras.

Na Ásia, mais especificamente em Katmandu, Nepal, trabalhadores de diversos sindicatos foram às ruas reivindicar seus direitos e aumento salarial, em função do crescente custo de vida. Na Europa, a já conturbada,  Atenas se viu tomada por oito mil pessoas protestando contra as medidas de austeridade, consequência de sua grave crise. Após a morte de Chávez, Maduro, seu sucessor ao poder e eleito democraticamente pelo povo, participou de um comício com trabalhadores, no centro de Caracas.

Os pilares econômicos no Brasil ainda não foram abalados,o trabalhador segue sua rotina diária,o povo não é afetado, o Bolsa Família prega essa ideologia de “dar o peixe”,ao invés de “pescá-lo”. Nos exemplos citados, os pilares todos foram modificados, vide cortes de gastos, aumento do custo e mudança de poder. Por isso, shows e comemorações de feriados são sempre esperados,o que vale é o dinheiro no nosso bolso!


Por: Rafael Fuccini

Nós, latino americanos


“A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la.” Eduardo Galeano



Somos latinos, mais ainda, somos latino americanos.  Lembramos disso em alguns raros momentos. Somos latino-americanos, na maioria das vezes, em nossa baixa auto estima.  Quando por ventura um “povo” qualquer assim nos identifica. Quando ridicularizam nossos líderes, nossos movimentos e nossa cultura.  Ou, quando, nós mesmos, nos encarregamos disso. Somos mais na doença que na saúde.

Lembramos também de onde somos, em função da Copa Libertadores que recebeu esse nome na tentativa de homenagear aqueles que, em tese, libertaram-nos de nossas metrópoles europeias.  Líderes cujos nomes não sabemos citar, e que, curiosamente, hoje, leva também o nome de seu patrocinador: uma instituição financeira espanhola.  Mas, não. Não torcemos juntos. Não torcemos uns pelos outros. Somos mais na derrota que na vitória.

Somos latino americanos na incapacidade, na incoerência, no fracasso de nossas tentativas de sermos respeitados enquanto cidadãos.  Acreditamos que somos parecidos no quão risível é nossa infantil busca por uma independência real.  E rimos, de nós mesmos, e de nossa suposta incapacidade para a organização. Estamos identificados com os “absurdos gloriosos” de nossas Histórias oficiais e oficiosas. Somos mais na morte que na vida.

Sentimo-nos latino americanos nos momentos em que pensamos que somos, sim, um pouco patéticos, um pouco ridículos e bastante cafonas... Só conseguimos nos reconhecer, quando olhamos para nós mesmos com os olhos de quem nos olha “de cima”.




Conhecemos um pouco do que é peculiar dos diferentes cantos deste continente “ao sul dos Estados Unidos”.  Assim como o samba, a bossa nova, o Jorge Amado, a caipirinha e a bundinha são os “cartões de visita culturais” brasileiros de amplo espectro, não necessariamente nessa ordem...

Mas não somos só isso. Não somos só samba, caipirinha e etc. Somos também Chico Science e Sepultura. Não gostamos de tudo, mas nos orgulhamos de nossa diversidade e seguimos sem enxergar outras pluralidades  outras riquezas tão próximas.  Essa vasta região não é somente “salsa y merengue”. 
  
FOMOS índios e imigrantes dos mais variados cantos da Terra. Essa é a nossa origem, não o que SOMOS.  De lá para cá construímos muita coisa, nos modificamos. Nossas raíses são uma parte importante, formadora dessa cultura, mas fomos além. E se na cultura, em constante transformação por princípio, fomos capazes de nos reinventar, por que não o fizemos com a visão que temos de nós mesmos?



A resposta é simples, por que estamos preocupados demais em sermos inimigos no saldo de gols. Por que investimos muito tempo e energia perpetuando preconceitos criados quando o Brasil ainda era uma monarquia, única no continente e cujo rei era português. Compramos brigas que não são nossas, e sobre as quais sabemos pouco, numa atitude verdadeiramente imperialista. Por que desde os tempos imemoriais do que hoje chamamos Brasil, insistimos em olhar para o mar, para fora, quando na verdade deveríamos olhar para nós mesmos, nós latino americanos, e nossos problemas comuns.




(Para quem quiser conhecer um pouco mais do que se faz pela América Latina afora em termos de cultura urbana e cosmopolita - nada tradicional - farei nos próximos dias uns posts com minhas sugestões de filmes, livros e... ROCK n' ROLL é claro!)


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Falando nisso...



Para uma historiadora, ser casada com um livreiro tem vantagens particulares. Uma delas é ter acesso a gente inteligente e com o dom de escrever. Sempre na aula pinta um papo sobre feminismo, e eu sempre lembro e cito uma dessas pessoas que tive o prazer de conhecer.

Um dos escritores mais fascinantes, na minha opinião, é também historiador. Mas não é por isso que é incrível. Alex Castro é um cara controverso. Li um livro de contos dele maravilhoso, que me chegou as mãos "Onde Perdemos Tudo". Os contos, claro, tratam de perdas, mas nem por isso é exatamente pesado. Embora não deixe de lado a realidade, é mais... emocionante, mesmo. 

Ele também escreve sobre diversos assuntos atuais. Temas que dizem respeito à questões centrais da nossa sociedade, e por que não, do cotidiano. De uma forma muito lógica e direta o Alex Castro é capaz de desvelar o pior do nosso preconceito intrínseco, nossas idiossincrasias mais vexaminosas, nossa incoerência, enfim. Mas ele faz isso com uma simpatia! De um jeito tão natural e divertido que ao invés de nos sentirmos constrangidos ou na "defensiva", é capaz de acabarmos agradecendo pela ajuda na autocrítica.

Na época em que ninguém havia falado ainda em "crowdfunding" Alex enviou e-mails aos amigos oferecendo a venda antecipada do seu livro. Assim ele arrecadou o dinheiro para a 1ª edição. Quem quer mesmo, não corre atrás, corre na frente...

Entre os muitos textos dele publicados em blogs e livros, um dos mais geniais é sobre o feminismo. Trata-se de uma aula, mais que divertida sobre o que é feminismo de fato, e o que o senso comum pensa ser o feminismo. O texto é longo, mas tem vários links para os diversos subtítulos. Os vídeos valem a pena também.

Feminismo para homens - Alex Castro

Para saber mais sobre as palestras, livros, e-books, etc. : http://alexcastro.com.br/