terça-feira, 28 de maio de 2013

De onde fala?

Zé Celso Martinez - Teatro Oficina

Todos nós falamos de algum lugar quando falamos de qualquer coisa. Sempre que damos uma opinião, seja ela embasada ou não, falamos de um dos muitos lugares físicos, sociais e cronológicos que ocupamos concomitante e alternadamente. Falamos no lugar de pais e de filhos, patrões e empregados, de classe ou de categorias, classe média em relação às baixas ou às altas, enfim.

Faz diferença nascer no morro ou no asfalto? Na Ásia ou na Europa? Será que temos as mesmas possibilidades de sonhar, ou expectativas reais, sendo brasileiros, que teríamos sendo noruegueses? Claro que não. O lugar, concretamente, não determina, mas influencia escolhas, decisões e trajetórias.

Com os grupos sociais não é diferente. Por mais que se tente sair desses lugares que ocupamos socialmente, estamos sempre um pouquinho presos a esse ângulo de visão. E por isso é natural que as minorias enxerguem opressões onde não vemos. Por isso, aquilo que simbolicamente não tem importância para um grupo, parece uma questão vital para o outro. Assim, o termo "preto" pode parecer uma bobagem para o branco e uma ofensa grave para o negro; uma piada machista seja intolerável para uma mulher; um crucifixo numa casa pública seja injustificável para um ateu.

Se é praticamente impossível nos despirmos de nosso tempo, classe social, cultura, religião etc. O que fazer? Ser parcial mesmo e... dane-se? Sair por aí despejando minhas verdades pelas ruas? Acredito que a melhor opção é ouvir, com mais atenção, o que descreve aquele que ocupa outro lugar e, portanto, observa tudo de outro ângulo. Também não é absoluta a verdade do outro, é apenas mais uma parte que compõe o todo.

Estar consciente desse processo também é uma ótima forma de conseguir uma visão mais panorâmica. Entre as mais ilimitadas das capacidades humanas está a incoerência. E é muito comum que ela se manifeste quando esquecemos de onde estamos analisando a questão.

Se o Mr Catra fala de sexo de uma forma escrachada, de baixo calão, é ferozmente criticado. Mesmo que ele tenha uma origem, negra, pobre, de exclusão, sem acesso à educação e à bens culturais ditos de "qualidade". Por outro lado, se as mesmas palavras são ditas pelo Lobão, por exemplo, as pessoas aplaudem e o sujeito se afirma como libertário, revolucionário anti hipocrisia burguesa, ou sei-lá-o-que. Só a elite sabe escrachar? Apenas os "meio intelectuais, meio de esquerda", para citar o Bar Ruim de Antônio Prata - Bar ruim é lindo, bicho! -  sabem a exata medida em que o suposto espírito libertário se transforma em pura e simples vulgaridade?

O cara que não teve acesso ao que a elite teve, usa as ferramentas que possui para se expressar, e o que ele faz é um lixo. Por outro lado, o filho da elite econômica e/ou letrada faz o mesmo, jogando fora tudo que adquiriu, tudo a que teve acesso, e é um gênio! Se a cena é no "Porta dos Fundos" é engraçadíssimo, se é no "Zorra Total" é de péssimo gosto.

Na minha opinião, vulgaridade é vulgaridade e ponto. Não importa de onde venha, ou melhor, importa, sim. Que ela venha da "massa de excluídos" eu até posso entender. As pessoas tem direito de optarem por esse caminho? Sim, sem dúvidas. Assim como ninguém é obrigado a gostar. E isso não tem nada haver com ser conservador ou não. Mas que as coisas fiquem claras, que não se dê outros nomes a esses bois.

Ser conservador é negar o direito à vulgaridade, digamos assim. Isso é muito diferente de gostar ou não. Eu jamais vestiria determinadas roupas. Não gosto. É diferente de julgar as capacidades e lealdades de quem as usa por isso. Mas, toda a caretice que se esconde por baixo de discursos que são superficialmente "libertários", a gente discute em outra publicação por aqui...

Mr Catra - Tabajaras

Nenhum comentário:

Postar um comentário