Mal havia me sentado na cadeira quando a música de abertura começou, mostrando fotos de infância e adolescência do ídolo. Nesse momento, eu já chorava de soluçar. Enquanto passavam os nomes de patrocinadores e a ficha técnica, passavam também por minha cabeça memórias e questionamentos. E corriam, sem parar, as lágrimas...
Lembrei das "bateções de panela" nas "Diretas Já". Da primeira eleição presidencial, da queda do muro de Berlim, e dos amigos comunistas do meu avô com aquela cara consternada pensando "o sonho acabou", da infância em Angola, do incrível ano de 1988.
Meu primeiro contato com o rock nacional, foi em 1985 - o ano da redemocratização - ganhei do meu irmão um disco chamado "Over Doze". Era uma compilação de 12 hits da época. Lá estavam Barão, Eletrodomésticos, Léo Jaime, Camisa de Vênus, etc. Mas, foi entre 87 e 88, na época com 8 ou 9 anos de idade que descobri a Legião Urbana. Primeiro o disco "Dois", em seguida "Que país é esse", meu preferido até hoje. A partir daí foi um tal de fitas k7 gravadas e trocadas entre amigos, enquanto a indústria fonográfica entrava em pânico com as reproduções, exatamente como aconteceu depois com o MP3.
Lembro do encantamento com aquelas letras que comparavam o Senado às favelas, que falavam da pseudo burguesia brasiliense e daqueles que "assistiam a tudo de cima do muro" por todo o Brasil. Ouvia aquilo o dia todo, cantava junto me emocionando de verdade. Pensava no meu país, a um oceano de distância, que elaborava sua Constituição. Sentíamos uma esperança tão grande, teríamos novamente direitos e garantias, seríamos finalmente cidadãos.
Os efeitos do retorno à democracia já se faziam sentir, uma vez que era possível se criticar o governo, o sistema, os esquemas, sem tanta "tesourada" da censura. Durante tanto tempo nossos artistas foram obrigados a elaborar metáforas para dizer o que estava entalado em tantas gargantas por aí. Agora, era possível colocar tudo isso para fora - "cuspir de volta o lixo em cima de vocês" - e todo mundo queria colocar a boca no trombone, na megafone, no microfone.
E depois dessa viagem inicial pelo "túnel do tempo", com as lágrimas ainda escorrendo aos borbotões, caí numa espécie de vazio. Procurava nos meus arquivos mentais, quem da década de '90 para cá ainda compunha com algum viés político. Não encontrei nenhum registro. E sim, é claro, adoro uma arte engajada.
A essa altura você provavelmente está discordando. Talvez citando mentalmente como exemplo a Nação Zumbi ou o O Rappa. Sim, sem dúvida são exemplos de engajamento. Mas falam de locais muito específicos, e muitas vezes sem perceber, vitimizam ainda mais a miséria. Uma coisa é compor sobre a realidade, sobre a miséria, sobre o grupo oprimido seja ele qual for. Outra diferente é falar da apatia de quem "tem o queijo e faca na mão" e, ou se conformou, ou não se importa. Se há algum espaço para o idealismo na trajetória de uma vida, está na juventude. Quando a juventude deseja apenas fazer parte do sistema, quando desistiu à priori, que esperança sobra?
Fiquei pensando... Quando foi que a juventude envelheceu, burocratizou-se? Quando foi que a essência transformadora e definidora dessa fase da vida "desbundou", alienou-se de vez? Quando foi que os jovens deixaram de criticar o sistema e passaram a sonhar fazer parte dele? Terá sido quando o rock nacional saiu do Fantástico para dar lugar aos "pega no bumbum" da vida? - e nem falo da forma, mas do conteúdo mesmo - Ou fui eu que envelheci, e como acontece com a maioria, perdi as esperanças? Sempre que direitos são conquistados, deixamos de saborear as conquistas e sentamos no sofá para assistir o JN?
Os questionamentos rondaram minha cabeça ao longo do filme que, exceto as atuações de Thiago Mendonça e Laila Zaid, é realmente ruim, vago, fraco. E, quando entra a última cena, a última música, desandei a chorar novamente.
Novamente pelas lembranças felizes da infância e por perceber que nesses momentos, do fim dos anos '80, enquanto eu ouvia "Que país é esse?", analisava e cantava alto, pela força do quanto acreditava naquelas palavras, eu me formava e me encontrava. Chorei por perceber que a história desse cara, que eu sigo admirando muito, faz parte da minha história, daquilo que fez de mim o que sou hoje.
E se sigo lutando, mesmo diante de tantas adversidades, de uma bela Constituição que ninguém respeita ou lê, da quantidade de gente de todas as idades que desacredita cada iniciativa, cada movimento antes até de existir de fato, que ri do meu idealismo, que denomina a militância de "raivosa" e seus discursos de "lixo político", talvez seja pelo fato de que, um dia, um menino brasiliense "me ensinou quase tudo que eu sei"... e com certeza, nada nesses 25 anos foi "Tempo perdido". "Ainda é Cedo" para dar a luta por vencida, afinal... "somos tão jovens" e sempre seremos... mesmo que apenas no coração revolucionário.
E se sigo lutando, mesmo diante de tantas adversidades, de uma bela Constituição que ninguém respeita ou lê, da quantidade de gente de todas as idades que desacredita cada iniciativa, cada movimento antes até de existir de fato, que ri do meu idealismo, que denomina a militância de "raivosa" e seus discursos de "lixo político", talvez seja pelo fato de que, um dia, um menino brasiliense "me ensinou quase tudo que eu sei"... e com certeza, nada nesses 25 anos foi "Tempo perdido". "Ainda é Cedo" para dar a luta por vencida, afinal... "somos tão jovens" e sempre seremos... mesmo que apenas no coração revolucionário.

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