sábado, 22 de junho de 2013

Com a Palavra: No coração das multidões




Acabei de chegar da lapa...
Eu presenciei CADA momento da manifestação de hoje, UERJ, Avenida Getúlio Vargas, Cinelândia e por fim, a lapa. Desde a manifestação pacifica até a zona de guerra. Andei até o maracanã, lutei no maracanã. Corri na Cinelândia, levei gás lacrimogênio em todo o trajeto. Tudo que presenciei, tudo que vi, tudo que vivi, covardia, medo e coragem, crueldade e paixão, vi um povo inconformado e policias apavorados, chorei quando jogavam gás e sorri quando caminhávamos pacificamente, me preocupei com pessoas que nunca vi na minha vida. Temi pela liberdade que a muito nos foi tomada. Eu vi que os policias tem mais medo do povo do que o povo dos policias, quando avançamos eles tremiam, quando fugíamos do gás eles ficavam aliviados.

Em duas semanas fizemos mais que muitos tentaram em 20 anos.

Atiraram contra civis com balas de verdade, eu vi policias passando de moto e atirando em pessoas, mesmo depois do fim dos protestos.

Só espero que todos saibam, nós temos menos medo de balas de borracha e de gás lacrimogênio do que eles tem do povo, da vontade de mudar o Brasil, o mundo! A todos os que participaram seja andando, lutando, enfrentando todos aqueles policias, todos os militares, ou que ajudaram divulgando nossas ideias, os eventos, tudo: OBRIGADO, o Brasil vai mudar, isso é a única promessa que posso lhes fazer, não sei como, não sei o que, mas o Brasil vai mudar.

Por Gabriel Romero

sexta-feira, 21 de junho de 2013

E seguem, diárias, as manifestações por aí...

Nos últimos tempos a História se deslocou numa dimensão espaço tempo de fluidez esguia e cidadania arisca. Fato é que as coisas estão num ritmo tão acelerado que o trabalho intelectual não consegue acompanhar. Cito novamente meu querido Alex Castro:

"muita gente tá afirmando não entender nada. aliás, quase todo mundo.
isso é normal de qualquer grande momento histórico e é justamente isso que me faz pensar que estamos vivendo um grande momento histórico.

afinal, vocês acham mesmo que o povo que fez a revolução francesa tava entendendo alguma coisa? foi tudo entendido a posteriori."

O que está acontecendo é, sim, grandioso! É dos episódios mais emocionantes que esse país já viu. Não deixe que o desacreditem antes mesmo que termine de lançar bases. Sem esperança o homem nunca chegou a lugar nenhum. Mais do que uma manifestação política trata-se de uma revolução cultural. Não é necessário se afiliar a nenhum grupo, sociedade civil organizada ou algo que o valha. Acredito que a verdadeira revolução desse país tem que vir de dentro de nós. Assim, são muitas as formas de contribuir para esse movimento, essas são só algumas:

- Seja honesto e ético, sempre.
- Exija que seus direitos sejam cumpridos
- Militância na internet também conta. 
- Coloque seus dizeres na janela, edite imagens e crie seu cartaz virtual, seja criativo. 
- Seja democrático, saiba ouvir e debater ideias e argumentos, com respeito às diferenças. 

Mais uma vez, prefiro selecionar textos que abordem todas essas questões que agora se impõe. 


Abaixo o vídeo em que os policiais se sentam com os manifestantes em SP. 





Em Teófilo Otoni a polícia mandou a banda de música!



E o Pelé perdeu mais uma ótima oportunidade de ficar quieto...


Ranking da corrupção por partido - TSE

E Romário ganhou mais uma de fazer bonito como político, sem "papas calientes" na língua:



Para quem lê inglês o The Economist parece ter entendido tudo que a imprensa brasileira opta por não entender:

The streets erupt



sexta-feira, 14 de junho de 2013

Sem palavras, ou tantas palavras



Hoje eu não digo nada. 
São tantas as palavras engasgadas ou mesmo já cuspidas que parece que se aglomeram na garganta para sair, e entalam na saída. Se conseguissem desentalar, sairiam desornadamente, sem fazer sentido até. 
Então hoje me limito a não falar, não gritar, não cuspir essas tantas palavras. Deixo que as palavras de tantos outros, que saíram tão belamente organizadas, falem também por mim. 

A gota que faltava

Em SP vinagre dá cadeia

O sopro de primavera antes da festa da FIFA

24 momentos do protesto em SP que você não verá na TV

Uma virada na cobertura

Graças à PM movimento agora é por um pais livre

Milhares já escolheram os sapatos que não vão apertar


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Com a Palavra: Mil Mulheres




Dentro de você, menina, escondem-se mil mulheres
De tantas vidas, tantas épocas, difícil saber quem é.
Mas você pode ser tudo da distância dos seus pés ao infinito

Os loucos são os que mais enxergam a realidade.
Não procure por definições, o que você é, está dentro apenas de você
Um caos
Uma delicadeza
Sabemos que tudo tem sua beleza

Texto e Foto: Clarisse Rezende

terça-feira, 4 de junho de 2013

Cidadania às avessas

Ok. Tudo bem, eu falo. Juro que não tive a menor vontade de falar sobre o episódio das pancadas do prefeito. Mas como conheço alguns dos envolvidos e, por isso, andei lendo declarações estapafúrdias naquela rede social super-pop... não vou resistir à análise de alguns pontos: 



1- O prefeito.

Esse está errado do início ao fim. Sabemos das falcatruas, das panelinhas de empresários, do dinheiro lavado com obras de consórcios duvidosos, da proteção à determinados bairros em detrimento de outros, enfim. Vivemos na cidade e vivemos a arbitrariedade diária, cotidiana, desse senhor. 

Política é uma carreira pública por definição. Sempre defendi que aqueles que optam por serem famosos em qualquer seara tem responsabilidade maior. São os "ossos do ofício", cada um tem os seus. O único espaço privado dessas vidas, digamos assim, é no local considerado privado por definição legal, ou seja, a casa. Então esse papo de "minha vida privada" num restaurante ou no meio fio cai por terra. Se fosse um jantar na casa de um amigo, quem sabe, talvez, esse "papinho"  fosse aceitável...

De todo modo, assessorado ou não, foi o único até agora que parece ter reconhecido o erro e, principalmente, compreendeu a hora de certa de parar.


2- Botika & Ana Maria

Com relação ao fato em si, vacilaram.

Sim, se eu encontrasse o Eduardo Paes com certeza o xingaria. Quiçá no calor do momento, depois de alguns saquês, eu até cuspisse na cara ou no prato dele, se tivesse a oportunidade. Mas uma xingada, assim, motivada pela revolta, estaria de bom tamanho. Afinal é muito incoerente defender a democracia e não respeitar o pleito. Com esse argumento eu concordo totalmente!

Mas eles exageraram, pecaram pelo excesso... Nesse caso o excesso da virtude transformou-a em vício. Mas até aí, acontece toda hora, não? O que me deixa confusa nessa história é a crítica em si. Não houve crítica, argumento real, só... xingamentos? 

Fico ainda mais confusa pois, mesmo não conhecendo "de perto" (até por que acho a banda dele chata mesmo) sei que ele faz parte de uma elite cultural carioca cheia de amigos no governo e que, curiosamente, vive abocanhando os famigerados editais, curadorias, etc. Quem acompanha as políticas culturais sabe que os espaços da cidade estão reservados para o grupo que tem os amigos certos. Ou seja na prática a teoria é outra? 
Ou nas palavras de Maurício Gouveia: 

"essa é a patota sempre privilegiada pelo status quo: os projetos deles entram nos editais, são convidados para gerir centros culturais da Prefeitura, recebem facilmente autorização para shows em locais públicos, são vizinhos (de casa ou de mesa de bar) dos principais jornalistas e tudo o que fazem recebem uma p... cobertura maneira do Globo."

E até aí, o erro dos dois, além dessa incoerência intrínseca, foi continuar não sabendo a hora de parar e de não parar. Fizeram a queixa apenas da agressão sofrida pela moça. Segundo Botika, socos não deixam marcas (?!), ou o punho do prefeito anda meio frouxo...

Em seguida, voltam atrás e retiram a queixa. A justificativa? Isso seria algo a ser resolvido na esfera política e não criminal. Seria, de fato, se o músico tivesse caído em si de que sua motivação, mesmo que tenha sido política, não chegou a ser explicitada, uma vez que ele apenas xingou o prefeito. Não houve argumento político, portanto. O que aconteceu, foi sim, apenas um crime de agressão, não um ato político. Da próxima vez, melhor respirar fundo, contar até dez, e debater ao invés de apenas proferir vários palavrões. Do contrário, a boa intenção se esgota antes mesmo de se concretizar.


3- Francisco Bosco

O jornalista tem todo o direito de ir jantar com quem quiser e votar em quiser. Mas não venha com esse papo de sentar para debater divergências ideológicas num dos restaurantes mais caros da cidade num domingo à noite. Não me venha dizer que o prefeito, à despeito de tudo que essa administração já fez com a população, é um cara legal por que colocou um quebra-molas na SUA rua atendendo à um pedido pessoal SEU depois de um comício caseiro em SUA residência. O que você quis dizer? Que é um grande cidadão por que a única vez que pediu algo ao prefeito, que já foi recebido em sua casa para divulgar suas idéias depois de 4 anos de governo, foi pelo bem público do Jardim Botânico? 

Tenho menos a prática da política do que gostaria, talvez por insegurança, mas adquiri alguma. Claro que converso com gente de quem discordo, alguns até respeito profundamente. Na faculdade fiz amigos inclusive entre a Juventude Monárquica Cristã. Mas bandido é diferente. Com bandido que ocupa cargo público, o debate se dá em casa pública, de acordo com a necessidade. 

Uma coisa é divergir ideologicamente, outra é ser amigo pessoal de quem rouba nosso dinheiro, superfatura obra para depois vender o espaço público para o interesse privado e que passa por cima da competência profissional para privilegiar com cargos comissionados os "ADA". É justamente essa flexibilização da ética que nos conduz por esses caminhos escusos, os quais depois culpamos por toda a nossa falta de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Defender sua postura de sentar-se para jantar junto com um político-bandido, mesmo que democraticamente eleito - Afinal falamos de um povo, que você que se coloca como um "intelectual" deve saber que, nem sempre, ao votar toma uma decisão política de fato. Falamos de um sistema eleitoral que por meio de financiamento privado de campanhas compromete o erário público à priori, que o jornalista, enquanto intelectual, certamente conhece, não? - dizendo estar num restaurante "caro", diga, foi uma ironia, certo? E mesmo tendo minhas questões pessoais com Ana Maria se você tem a liberdade de sentar-se com o alcaide, de flexibilizar a sua ética, por que não tem a moça o direito de discordar no FB dela?! Ou o direito de expressão só funciona para você?

No entanto, na semana que se seguiu ao ocorrido, o jornalista de linhagem também nobre, utilizou o espaço de sua coluna para, mais uma vez, comentar o ocorrido e defender uma postura que o próprio autor diz não ter de justificar... confuso pacas! Confuso também ficou o texto de tão empolado pela alardeada intelectualidade do autor, alardeada principalmente por ele mesmo. Aposto que a maioria que chegou até o fim, leu e não entendeu. Tudo poderia ser dito de forma culta, sim, mas clara e em muito menos linhas.

Esse foi o que mais perdeu a oportunidade de ficar calado, mais que o Botika, até. Para mim o que fica de Francisco Bosco é a desconfiança. Desconfio, sim, de quem é amigo pessoal do prefeito ou topa sê-lo enquanto o último exerce o mandato. Pois nesse caso, não se trata de discordâncias ideológicas ou estratégicas, trata-se de uma questão ética e moral. Desconfio de pessoas com menos de 80 anos que se autoproclamam "intelectuais". Acredito que o verdadeiro intelectual, pela natureza do conceito, seja aquele que quanto mais se torna intelectual, mais percebe o tamanho do universo que desconhece. Menos afirma e mais ouve. O verdadeiro intelectual quanto mais cultura e conhecimento tem, mais sabe que nada sabe. O resto é pura arrogância. 

4- Parabéns ao único anônimo, o único do "povo" dessa história: o segurança. 

Pois bem. O cara fez o seu trabalho, ou pelo menos tentou. O fato de o segurança ser do prefeito e ser pago com nosso dinheiro não se dá em razão do Eduardo Paes, e sim do cargo. A segurança de uma figura política como a dele é para garantir a democracia. Garantir que aquele escolhido pela maioria tenha liberdade para exercer seu trabalho, mesmo que a gente não concorde com o trabalho feito. 

Em resumo: Errou o músico e a namorada pelo exagero e pela incoerência, errou o jornalista por flexibilizar sua ética e pela intelectualidade de gabinete que o afastou da precisão dos conceitos, errou o prefeito por perder a cabeça e agir como um zé mané qualquer, brigão. Errei eu, por acabar comentando longamente o episódio. Acertou o segurança que mesmo que tenha exagerado na força - será que os joelhos estavam ralados ou "sangrando" - ateve-se à sua função. 

Moral da História: Democracia se faz com participação política. Quem conhece um pouquinho a CFB/88, sabe que há meios mais efetivos para se lutar contra àqueles que governam em benefício próprio. E quem usa a razão, sabe que debater idéias é bem mais produtivo do que xingar a mãe.

Alguma pergunta? 
Sim, uma que não quer calar... Afinal, o que terá acontecido REALMENTE para indivíduos, até então beneficiados por financiamentos e cargos na prefeitura atual, depois de alguns saquês, caírem em tamanho destempero?  Mais uma fofoca da côrte que não chegara até nós, plebeus.








sexta-feira, 31 de maio de 2013

Com a Palavra: Ruídos Urbanos



Algo que explode se expande dentro de mim
São palavras jogadas que aliviam minha mente
Vida corrida, cabeça conturbada, mente sempre fluindo
Sentada no ônibus vejo o terror passar
Tantos ruídos fazem com queira me isolar

Não é covardia, é sobrevivência
Prefiro meu mundo particular
Eles falam, falam e não dizem nada
às vezes quero ficar quieta,
às vezes preciso gritar
Tanta violência gratuita...
Gentileza, ninguém faz

Dai-me um motivo para não surtar
Chamam-me de louco mas sou o único com ideais
Rico sou eu, que tenho a imensidão dentro de mim
Que só preciso de papel e caneta para viajar

Que evolução é essa em que o homem  desaprendeu a amar?

Texto e Foto: Clarisse Rezende

terça-feira, 28 de maio de 2013

De onde fala?

Zé Celso Martinez - Teatro Oficina

Todos nós falamos de algum lugar quando falamos de qualquer coisa. Sempre que damos uma opinião, seja ela embasada ou não, falamos de um dos muitos lugares físicos, sociais e cronológicos que ocupamos concomitante e alternadamente. Falamos no lugar de pais e de filhos, patrões e empregados, de classe ou de categorias, classe média em relação às baixas ou às altas, enfim.

Faz diferença nascer no morro ou no asfalto? Na Ásia ou na Europa? Será que temos as mesmas possibilidades de sonhar, ou expectativas reais, sendo brasileiros, que teríamos sendo noruegueses? Claro que não. O lugar, concretamente, não determina, mas influencia escolhas, decisões e trajetórias.

Com os grupos sociais não é diferente. Por mais que se tente sair desses lugares que ocupamos socialmente, estamos sempre um pouquinho presos a esse ângulo de visão. E por isso é natural que as minorias enxerguem opressões onde não vemos. Por isso, aquilo que simbolicamente não tem importância para um grupo, parece uma questão vital para o outro. Assim, o termo "preto" pode parecer uma bobagem para o branco e uma ofensa grave para o negro; uma piada machista seja intolerável para uma mulher; um crucifixo numa casa pública seja injustificável para um ateu.

Se é praticamente impossível nos despirmos de nosso tempo, classe social, cultura, religião etc. O que fazer? Ser parcial mesmo e... dane-se? Sair por aí despejando minhas verdades pelas ruas? Acredito que a melhor opção é ouvir, com mais atenção, o que descreve aquele que ocupa outro lugar e, portanto, observa tudo de outro ângulo. Também não é absoluta a verdade do outro, é apenas mais uma parte que compõe o todo.

Estar consciente desse processo também é uma ótima forma de conseguir uma visão mais panorâmica. Entre as mais ilimitadas das capacidades humanas está a incoerência. E é muito comum que ela se manifeste quando esquecemos de onde estamos analisando a questão.

Se o Mr Catra fala de sexo de uma forma escrachada, de baixo calão, é ferozmente criticado. Mesmo que ele tenha uma origem, negra, pobre, de exclusão, sem acesso à educação e à bens culturais ditos de "qualidade". Por outro lado, se as mesmas palavras são ditas pelo Lobão, por exemplo, as pessoas aplaudem e o sujeito se afirma como libertário, revolucionário anti hipocrisia burguesa, ou sei-lá-o-que. Só a elite sabe escrachar? Apenas os "meio intelectuais, meio de esquerda", para citar o Bar Ruim de Antônio Prata - Bar ruim é lindo, bicho! -  sabem a exata medida em que o suposto espírito libertário se transforma em pura e simples vulgaridade?

O cara que não teve acesso ao que a elite teve, usa as ferramentas que possui para se expressar, e o que ele faz é um lixo. Por outro lado, o filho da elite econômica e/ou letrada faz o mesmo, jogando fora tudo que adquiriu, tudo a que teve acesso, e é um gênio! Se a cena é no "Porta dos Fundos" é engraçadíssimo, se é no "Zorra Total" é de péssimo gosto.

Na minha opinião, vulgaridade é vulgaridade e ponto. Não importa de onde venha, ou melhor, importa, sim. Que ela venha da "massa de excluídos" eu até posso entender. As pessoas tem direito de optarem por esse caminho? Sim, sem dúvidas. Assim como ninguém é obrigado a gostar. E isso não tem nada haver com ser conservador ou não. Mas que as coisas fiquem claras, que não se dê outros nomes a esses bois.

Ser conservador é negar o direito à vulgaridade, digamos assim. Isso é muito diferente de gostar ou não. Eu jamais vestiria determinadas roupas. Não gosto. É diferente de julgar as capacidades e lealdades de quem as usa por isso. Mas, toda a caretice que se esconde por baixo de discursos que são superficialmente "libertários", a gente discute em outra publicação por aqui...

Mr Catra - Tabajaras

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Com a Palavra: "O Maraca agora fica em RJ-X"




Passando um dia desses pelo Maracanã, me recordei das várias vezes em que fui assistir a uma partida de futebol. Já faz uns bons três anos que o Maracanã está em reforma e vagamente me lembro de uma partida, Flamengo X Fluminense, particularmente uma das melhores que já assisti. Todos em clima de competição com muita gritaria. Todos em um só, Maracanã, cheio, um clássico! Fla x Flu, e as duas torcidas em uma só gritavam: 

HA HA HU HU O MARACA É NOSSO, HA HA HU HU.

Quando observei novamente o tal Maracanã em reforma, bateu aquela tristeza em ver que o tal "Maraca" não é mais nosso! Outro dia, no Jornal O Globo, li que a licitação feita pela empresa EBX do Eike Batista foi aprovada, existe maior tristeza que essa? Se ao menos a população acordasse e percebesse que todo o dinheiro para a reforma saiu dos nossos bolsos, e esse patrimônio está sendo vendido por menos da metade de todo o dinheiro gasto. Isso é uma vergonha, uma vergonha pessoal e alheia. 



Talvez daqui a 35 anos, quando o contrato acabar, poderemos voltar a cantar que o Maraca é nosso.



Por: Yasmin Barreto

terça-feira, 21 de maio de 2013

Quando foi que a juventude envelheceu?



Na última semana, fui ver o famigerado filme "Somos Tão Jovens" - e que ainda não entendi se pretendia contar a história do Renato ou da Legião - de modo geral os comentários eram de que o filme era ruim. 

Mal havia me sentado na cadeira quando a música de abertura começou, mostrando fotos de infância e adolescência do ídolo. Nesse momento, eu já chorava de soluçar. Enquanto passavam os nomes de patrocinadores e a ficha técnica, passavam também por minha cabeça memórias e questionamentos. E corriam, sem parar, as lágrimas... 

Lembrei das "bateções de panela" nas "Diretas Já". Da primeira eleição presidencial, da queda do muro de Berlim, e dos amigos comunistas do meu avô com aquela cara consternada pensando "o sonho acabou", da infância em Angola, do incrível ano de 1988. 

Meu primeiro contato com o rock nacional, foi em 1985 - o ano da redemocratização - ganhei do meu irmão um disco chamado "Over Doze". Era uma compilação de 12 hits da época. Lá estavam Barão, Eletrodomésticos, Léo Jaime, Camisa de Vênus, etc. Mas, foi entre 87 e 88, na época com 8 ou 9 anos de idade que descobri a Legião Urbana. Primeiro o disco "Dois", em seguida "Que país é esse", meu preferido até hoje. A partir daí foi um tal de fitas k7 gravadas e trocadas entre amigos, enquanto a indústria fonográfica entrava em pânico com as reproduções, exatamente como aconteceu depois com o MP3.

Lembro do encantamento com aquelas letras que comparavam o Senado às favelas, que falavam da pseudo burguesia brasiliense e daqueles que "assistiam a tudo de cima do muro" por todo o Brasil. Ouvia aquilo o dia todo, cantava junto me emocionando de verdade. Pensava no meu país, a um oceano de distância, que elaborava sua Constituição. Sentíamos uma esperança tão grande, teríamos novamente direitos e garantias, seríamos finalmente cidadãos. 

Os efeitos do retorno à democracia já se faziam sentir, uma vez que era possível se criticar o governo, o sistema, os esquemas, sem tanta "tesourada" da censura. Durante tanto tempo nossos artistas foram obrigados a elaborar metáforas para dizer o que estava entalado em tantas gargantas por aí. Agora, era possível colocar tudo isso para fora - "cuspir de volta o lixo em cima de vocês" - e todo mundo queria colocar a boca no trombone, na megafone, no microfone. 

E depois dessa viagem inicial pelo "túnel do tempo", com as lágrimas ainda escorrendo aos borbotões, caí numa espécie de vazio. Procurava nos meus arquivos mentais, quem da década de '90 para cá ainda compunha com algum viés político. Não encontrei nenhum registro. E sim, é claro, adoro uma arte engajada.

A essa altura você provavelmente está discordando. Talvez citando mentalmente como exemplo a Nação Zumbi ou o O Rappa. Sim, sem dúvida são exemplos de engajamento. Mas falam de locais muito específicos, e muitas vezes sem perceber, vitimizam ainda mais a miséria. Uma coisa é compor sobre a realidade, sobre a miséria, sobre o grupo oprimido seja ele qual for. Outra diferente é falar da apatia de quem "tem o queijo e faca na mão" e, ou se conformou, ou não se importa. Se há algum espaço para o idealismo na trajetória de uma vida, está na juventude. Quando a juventude deseja apenas fazer parte do sistema, quando desistiu à priori, que esperança sobra? 

Fiquei pensando... Quando foi que a juventude envelheceu, burocratizou-se? Quando foi que a essência transformadora e definidora dessa fase da vida "desbundou", alienou-se de vez? Quando foi que os jovens deixaram de criticar o sistema e passaram a sonhar fazer parte dele? Terá sido quando o rock nacional saiu do Fantástico para dar lugar aos "pega no bumbum" da vida? - e nem falo da forma, mas do conteúdo mesmo - Ou fui eu que envelheci, e como acontece com a maioria, perdi as esperanças? Sempre que direitos são conquistados, deixamos de saborear as conquistas e sentamos no sofá para assistir o JN? 

Os questionamentos rondaram minha cabeça ao longo do filme que, exceto as atuações de Thiago Mendonça e Laila Zaid, é realmente ruim, vago, fraco. E, quando entra a última cena, a última música, desandei a chorar novamente. 

Novamente pelas lembranças felizes da infância e por perceber que nesses momentos, do fim dos anos '80, enquanto eu ouvia "Que país é esse?", analisava e cantava alto, pela força do quanto acreditava naquelas palavras, eu me formava e me encontrava. Chorei por perceber que a história desse cara, que eu sigo admirando muito, faz parte da minha história, daquilo que fez de mim o que sou hoje. 

E se sigo lutando, mesmo diante de tantas adversidades, de uma bela Constituição que ninguém respeita ou lê, da quantidade de gente de todas as idades que desacredita cada iniciativa, cada movimento antes até de existir de fato, que ri do meu idealismo, que denomina a militância de "raivosa" e seus discursos de "lixo político", talvez seja pelo fato de que, um dia, um menino brasiliense "me ensinou quase tudo que eu sei"... e com certeza, nada nesses 25 anos foi "Tempo perdido". "Ainda é Cedo" para dar a luta por vencida, afinal... "somos tão jovens" e sempre seremos... mesmo que apenas no coração revolucionário. 















sexta-feira, 17 de maio de 2013

Olhares - Violência













Foto e  edição:  Gabriela Marinho
Trabalho: "Olhares - Redescobrindo nossos caminhos."

terça-feira, 14 de maio de 2013

Eu vos declaro... Felizes!



O "casamento gay" foi reconhecido no Rio. Ponto para nós, cariocas, concorde ou não você com a matéria em si. Por matéria entende-se o tema, objetivamente, da questão que é: casais formados por indivíduos do mesmo sexo poderem casar , e não se você acha certo ou "natural" que eles existam. O tomate que comemos não é exatamente "natural", mas... 

Se pararmos para pensar, há elementos no ser humano que categorizamos como sendo "naturais" e que recriminamos, como o preconceito, por exemplo. Há conceitos como a ética e a moral, que são valorizadas pela sociedade. É... difícil às vezes explicar racionalmente aquilo que simplesmente sentimos. E como discutir o que é ou não natural, diante das elaborações da racionalidade humana? 

Se sentimos, apenas, é de foro privado certo? É nosso. Então, em tese, interessa só a nós e a um ou outro amigo, com quem tenhamos mais tempo para conversar. E bastaria que nós, vivêssemos de acordo com as nossas convicções, (mais uma vez, acompanha um pronome PESSOAL, note bem). Assim como não deveria ser do meu interesse o casamento da moça que senta ao meu lado no ônibus. Então por que se importar? 

Importo-me na medida em que acredito, por princípio, que a sexualidade dos outros, contanto que respeite os direitos humanos e o código penal, não são assunto meu. Portanto, qualquer um tem o mesmo direito civil que eu. Por outro lado o direito ao contrato civil do casamento tem implicações práticas na vida dos homossexuais: plano de saúde, herança, título de clube, etc. Na minha, não.

Se o preconceito é natural no ser humano, a tolerância é a elaboração ética da razão. É a esse exercício que devemos dedicar o tempo. Sempre "não gostaremos" de algum grupo, mas é necessário conviver. E conviver é reconhecer que tem os mesmos direitos, e que, como para todas as nossas outras convicções, essa também possui exceções. E que se EU não gosto, trata-se de um problema individual MEU, certo?

É necessário que se entenda que por melhor que seja a retórica de quem fala, ampliar direitos à um grupo que, diferentemente de todos os outros nunca os teve, é o contrário de dar privilégios. Quando se privilegia se negam direitos a todos os grupos, exceto claro, a categoria beneficiada. É um ato excludente. Se os direitos antes negados a um grupo e permitidos à outros, são ampliados e passam a valer para todos, trata-se de promoção de igualdade.

Acredito que o preconceito é o elemento que há de mais natural nessa discussão. Sempre haverá um grupo que não compreenderemos, não aceitaremos ou rejeitaremos à priori. Mas é necessário que se tenha em mente que o que sentimos não é racional. Uma sociedade em que cada indivíduo "aceite" todos os estilos de vida, pontos de vista, não é utópica. Haver consenso significa que não há ninguém questionando, isso não é positivo para o desenvolvimento social. No entanto uma sociedade que se orienta coletivamente por princípios legais e racionais e não pelas paixões individuais, é uma sociedade mais justa, mais igual, melhor.

Há tantas regras criadas que não tem impacto real em nossas vidas e para as quais não damos, por isso mesmo, atenção. Há outras, no entanto que modificam diretamente nossa qualidade de vida, e não fazemos nada contra.

Aproveita mais a vida que entende que não é preciso gostar ou concordar para respeitar. Mas, esse é o tipo de coisa que se leva a vida inteira exercitando...



sexta-feira, 10 de maio de 2013

Nós Latinos Americanos - Filmes



O cinema latino americano tem trazido boas surpresas. Filmes em geral com poucas locações, porém muita riqueza em roteiros. Essa riqueza está justamente na simplicidade e universalidade dos temas. Tem havido também co-produções brasileiras das quais quase não se houve falar. 

Naturalmente que as produções do chamado "Cone Sul", numa alusão à forma da porção mais ao sul da região, chegam com maior facilidade às telas. O cinema Argentino em especial tem conquistado um maior espaço aqui e nos brindado com todas as emoções, dos olhos arregalados de medo e suspense aos marejados pelo lirismo das cenas. 

Abaixo uma lista de filmes que tem encantado meus olhos nos últimos tempos por ordem de "brainstorm":

- Las Viudas de los Jueves (Arg)
 (Viúvas às 5ªf)
2009, direção de Marcelo Piñyero.

Num condomínio de luxo, às vésperas da quebra da economia do país, um grupo de amigos é encontrado morto na piscina de uma das casas. A investigação trás à tona o lado oculto da alta sociedade argentina prestes a ruir. 



- La Casa Muda (Arg)
2010, direção de Gustavo Hernandéz 
Filme de terror baseado em fatos reais. Imperdível!!! Destaque para os efeitos centrados em jogos de espelhos e luz. O filme foi rodado em 4 dias e custou US$ 6.000!!!




- O Homem ao Lado (Arg)
2009, direção de Gaston Duprat e Mariano Cohn

Premiado pelo mundo afora o filme é uma crítica bem humorada, melhor descrita no link: Crítica de "O Homem ao Lado"



- Um Conto Chinês (Arg)

2011, direção de Sebastián Borensztein

Uma comédia inteligente sobre um chinês que literalmente cai do céu na vida de um homem metódico na Argentina. 


terça-feira, 7 de maio de 2013

Com a Palavra: Depois de um “1º de abril”... mais um “1º de Maio”...



Numa quarta-feira comemoramos mais um 1º de Maio, dedicado aos braços fortes do mundo inteiro, que se movem todos os dias gerando lucros a quem os emprega. E as comemorações foram vastas... No Brasil, tivemos corridas e caminhadas no Nordeste, shows no Noroeste paulista e entre outras atrações. Aliás, é feriado...

 Ao redor do mundo, esse feriado foi encarado de forma bem diferente. Centenas de movimentos foram organizados em prol de uma valorização maior ao trabalhador, questionando-se as políticas de governos vigentes em certos países e suas crises financeiras.

Na Ásia, mais especificamente em Katmandu, Nepal, trabalhadores de diversos sindicatos foram às ruas reivindicar seus direitos e aumento salarial, em função do crescente custo de vida. Na Europa, a já conturbada,  Atenas se viu tomada por oito mil pessoas protestando contra as medidas de austeridade, consequência de sua grave crise. Após a morte de Chávez, Maduro, seu sucessor ao poder e eleito democraticamente pelo povo, participou de um comício com trabalhadores, no centro de Caracas.

Os pilares econômicos no Brasil ainda não foram abalados,o trabalhador segue sua rotina diária,o povo não é afetado, o Bolsa Família prega essa ideologia de “dar o peixe”,ao invés de “pescá-lo”. Nos exemplos citados, os pilares todos foram modificados, vide cortes de gastos, aumento do custo e mudança de poder. Por isso, shows e comemorações de feriados são sempre esperados,o que vale é o dinheiro no nosso bolso!


Por: Rafael Fuccini

Nós, latino americanos


“A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la.” Eduardo Galeano



Somos latinos, mais ainda, somos latino americanos.  Lembramos disso em alguns raros momentos. Somos latino-americanos, na maioria das vezes, em nossa baixa auto estima.  Quando por ventura um “povo” qualquer assim nos identifica. Quando ridicularizam nossos líderes, nossos movimentos e nossa cultura.  Ou, quando, nós mesmos, nos encarregamos disso. Somos mais na doença que na saúde.

Lembramos também de onde somos, em função da Copa Libertadores que recebeu esse nome na tentativa de homenagear aqueles que, em tese, libertaram-nos de nossas metrópoles europeias.  Líderes cujos nomes não sabemos citar, e que, curiosamente, hoje, leva também o nome de seu patrocinador: uma instituição financeira espanhola.  Mas, não. Não torcemos juntos. Não torcemos uns pelos outros. Somos mais na derrota que na vitória.

Somos latino americanos na incapacidade, na incoerência, no fracasso de nossas tentativas de sermos respeitados enquanto cidadãos.  Acreditamos que somos parecidos no quão risível é nossa infantil busca por uma independência real.  E rimos, de nós mesmos, e de nossa suposta incapacidade para a organização. Estamos identificados com os “absurdos gloriosos” de nossas Histórias oficiais e oficiosas. Somos mais na morte que na vida.

Sentimo-nos latino americanos nos momentos em que pensamos que somos, sim, um pouco patéticos, um pouco ridículos e bastante cafonas... Só conseguimos nos reconhecer, quando olhamos para nós mesmos com os olhos de quem nos olha “de cima”.




Conhecemos um pouco do que é peculiar dos diferentes cantos deste continente “ao sul dos Estados Unidos”.  Assim como o samba, a bossa nova, o Jorge Amado, a caipirinha e a bundinha são os “cartões de visita culturais” brasileiros de amplo espectro, não necessariamente nessa ordem...

Mas não somos só isso. Não somos só samba, caipirinha e etc. Somos também Chico Science e Sepultura. Não gostamos de tudo, mas nos orgulhamos de nossa diversidade e seguimos sem enxergar outras pluralidades  outras riquezas tão próximas.  Essa vasta região não é somente “salsa y merengue”. 
  
FOMOS índios e imigrantes dos mais variados cantos da Terra. Essa é a nossa origem, não o que SOMOS.  De lá para cá construímos muita coisa, nos modificamos. Nossas raíses são uma parte importante, formadora dessa cultura, mas fomos além. E se na cultura, em constante transformação por princípio, fomos capazes de nos reinventar, por que não o fizemos com a visão que temos de nós mesmos?



A resposta é simples, por que estamos preocupados demais em sermos inimigos no saldo de gols. Por que investimos muito tempo e energia perpetuando preconceitos criados quando o Brasil ainda era uma monarquia, única no continente e cujo rei era português. Compramos brigas que não são nossas, e sobre as quais sabemos pouco, numa atitude verdadeiramente imperialista. Por que desde os tempos imemoriais do que hoje chamamos Brasil, insistimos em olhar para o mar, para fora, quando na verdade deveríamos olhar para nós mesmos, nós latino americanos, e nossos problemas comuns.




(Para quem quiser conhecer um pouco mais do que se faz pela América Latina afora em termos de cultura urbana e cosmopolita - nada tradicional - farei nos próximos dias uns posts com minhas sugestões de filmes, livros e... ROCK n' ROLL é claro!)


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Falando nisso...



Para uma historiadora, ser casada com um livreiro tem vantagens particulares. Uma delas é ter acesso a gente inteligente e com o dom de escrever. Sempre na aula pinta um papo sobre feminismo, e eu sempre lembro e cito uma dessas pessoas que tive o prazer de conhecer.

Um dos escritores mais fascinantes, na minha opinião, é também historiador. Mas não é por isso que é incrível. Alex Castro é um cara controverso. Li um livro de contos dele maravilhoso, que me chegou as mãos "Onde Perdemos Tudo". Os contos, claro, tratam de perdas, mas nem por isso é exatamente pesado. Embora não deixe de lado a realidade, é mais... emocionante, mesmo. 

Ele também escreve sobre diversos assuntos atuais. Temas que dizem respeito à questões centrais da nossa sociedade, e por que não, do cotidiano. De uma forma muito lógica e direta o Alex Castro é capaz de desvelar o pior do nosso preconceito intrínseco, nossas idiossincrasias mais vexaminosas, nossa incoerência, enfim. Mas ele faz isso com uma simpatia! De um jeito tão natural e divertido que ao invés de nos sentirmos constrangidos ou na "defensiva", é capaz de acabarmos agradecendo pela ajuda na autocrítica.

Na época em que ninguém havia falado ainda em "crowdfunding" Alex enviou e-mails aos amigos oferecendo a venda antecipada do seu livro. Assim ele arrecadou o dinheiro para a 1ª edição. Quem quer mesmo, não corre atrás, corre na frente...

Entre os muitos textos dele publicados em blogs e livros, um dos mais geniais é sobre o feminismo. Trata-se de uma aula, mais que divertida sobre o que é feminismo de fato, e o que o senso comum pensa ser o feminismo. O texto é longo, mas tem vários links para os diversos subtítulos. Os vídeos valem a pena também.

Feminismo para homens - Alex Castro

Para saber mais sobre as palestras, livros, e-books, etc. : http://alexcastro.com.br/



segunda-feira, 29 de abril de 2013

É domingo, e o Maraca não é mais nosso...


No fim de semana o Maracanã reabriu.

Depois de 3 anos em obras, depois de drenar dinheiro público suficiente para transformar o Rio em Mônaco, o estádio mais famoso do país reabre, e será privatizado.



Há, em linhas gerais, duas formas de se ver o Estado. A primeira é a visão de um “Estado mínimo”, o que significa na prática pouca regulamentação, principalmente com relação às atividades econômicas. Além disso, defende-se que o Estado deva ser enxuto e não oneroso. Devemos pagar menos impostos e receber menos serviços. “Enxuga-se” o Estado entregando sua administração à iniciativa privada, regida pela natural maximização de lucros. É o caso das OS’s , por exemplo.

Outro grupo defende um Estado de caráter mais social. Ou seja, que Estados tem natureza e função diferentes de empresas e devem, por isso, ser regidos por outra lógica. Devem primar pelo bem público. Responsável, em última instância, por garantir condições básicas de vida aos cidadãos. São perspectivas de Estado em que o bem estar social está acima dos demais princípios. O Estado existe “por” e “para” o cidadão.

São apenas formas opostas de pensar, cada uma com seu mérito. O radicalismo é exatamente o que nos cega nessas questões. É preciso saber ouvir, apurar as boas ideias de cada modelo, refletir, adaptar...

Voltando ao Maracanã, a realidade é que não se pratica nem uma política liberal, nem de viés social. Pratica-se uma junção torta em que o Estado protege o grande capital. Gastamos fortunas dignas da Arábia Saudita para reformar um estádio, que no fim das contas ficará menor, e o entregamos a um consórcio de multinacionais que cobrarão muito mais caro por um bem cultural nosso e reformado com o nosso dinheiro.  Que te parece?

Enquanto essa manobra foi armada havia muita gente lutando para que as coisas não tomassem, novamente, esse rumo. Mas eram poucas vozes se comparadas às que gritaram um dia “O Maraca é nosso!”. Onde estão os torcedores que dizem amar o futebol? Que dizem que futebol é “religião”?  Que se orgulham da cultura “boleira” da cidade, do país? É esse Maracanã que querem? Cadê os "apaixonados" pela camisa, pelo Rio e seus símbolos? Calaram-se as vozes que bradavam os gritos de torcida? Reclamarão depois dos contratos assinados?

É até compreensível, embora eu discorde, que se defenda uma posição em prol da privatização, mas não, nunca, nesses termos.  Sem qualquer contrapartida. Fui duas vezes ao Maracanã. As chances de que eu vá de novo são ínfimas, salvo alguma “revolução” à la  Pinochet. Sempre defendi que o futebol trazia problemas não só para o Brasil, mas também para a integração latino-americana. Mas essa negociata me incomoda, pois se dá à custa do nosso dinheiro.  

A Fifa já impediu as baianas da Fonte Nova e o São João de Salvador. Mexeu na lei da “meia-entrada”, o Mineirão na estreia foi um desastre e não foi o único, o Engenhão fechado,  e todo mundo ligado na tabela do brasileirão... Sempre achei que quando violassem o “Pão e Circo” de verdade, o povo se mexeria mais. Bom, o circo já pegou fogo... os cariocas continuarão no bar assistindo o jogo...
Agora, do lado de fora. 

Com a palavra, Lúcio de Castro (ESPN), que entende muito mais de Maraca e de futebol do que eu, e que esteve na reinauguração da nova "arena", nada monumental, igual a todas as outras e para poucos...

http://www.espn.com.br/post/326086_mataram-meu-maracana-podem-chamar-de-estadio-justo-verissimo


sábado, 20 de abril de 2013

Voto obrigatório



No Brasil todos são obrigados a votar. No entanto, parece ter sido incorporada pelo senso comum, a ideia de que um dos problemas na política nacional é a compulsoriedade do voto. Defende-se, hoje, de forma bem ampla, que uma vez que o voto não fosse uma obrigação, só haveria votos conscientes. Mas será que essa tese se aplica ao Brasil?

Mesmo o voto sendo constitucionalmente obrigatório, há flexibilidade. Há a possibilidade de justificá-lo ou anulá-lo.  Justificar exige um trabalho maior, claro. Mas anular o voto nos casos de total descrença, protesto, ou insatisfação com as opções disponíveis, é muito fácil.

Os descrentes, de modo geral, são os mais alienados. Usam a descrença como desculpa para sua alienação. Quem não acompanha nada só vê o escândalo na TV. Político que trabalha e não rouba não aparece na mídia.  Não seria justamente quem pensa que ninguém na política tem caráter o primeiro a fiscalizar? Não deveria se envolver? Quem desconfia de um funcionário não o acompanha mais de perto?

O voto nulo pode até ser um protesto, uma vez que, representa em números a insatisfação do cidadão. Mas qual o efeito desse protesto? Qual a consequência?  Os maus políticos fazem a festa! Se não estão nem aí para a população, tampouco estão ligando se os eleitores estão ou não satisfeitos. Sempre terá um miserável disposto a trocar seu voto por comida. Se por ventura conseguíssemos a maioria de nulos, invalidando a eleição, gastaríamos mais dinheiro para fazer outra. E aí? Dessa vez faz o que? Vota em alguém? Anula tudo de novo? Até quando? Melhor tomar coragem e fazer logo uma revolução!

Mas há o voto nulo consciente, quando numa ou noutra eleição específica, diante das opções disponíveis, o eleitor decide anular. Aí, é legítimo.

Por ser obrigatório, as pessoas decidem não anular? Se isso acontece, a não obrigatoriedade não acabaria “selecionando” como eleitores somente aqueles que votariam em troca de algo? Mesmo que isso não acontecesse, se nenhum político é ético, como muitos vociferam por aí, para quem seriam esses tais votos conscientes?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Quem vaia, muitas vezes, amigo é...


Acabo de ver o post do Chacal sobre a vaia que levou no Circo Voador.  Alguém comentou que “vaia faz parte da vida do artista”, e eu endosso dizendo: Já diria Lucinha Lins! Já vaiei e vaiaria de novo algumas pessoas. Não me lembro de ter vaiado artistas, mas já vaiei muito político em debate, confesso! Muito concorrente de chapa e, até amigos, em plenárias.

Saindo do mérito da justiça ou deseducação da vaia em si, e analisando o caso do Chacal, a vaia é justamente pela admiração. Esperamos atitudes inteligentes e éticas daqueles que admiramos pela inteligência e pela coragem de publicamente não compactuar com algumas coisas.

Também tenho sentimentos e opiniões dúbias sobre o “patrulhamento”. Por um lado é um saco, por outro, produz uma sociedade, no mínimo menos irritante. Uma série de temas de patrulhamento, são benéficos quando vão ao encontro da garantia de direitos. Não seria esse o caso do racismo e da homofobia? Nesses casos, o não patrulhamento é omissão, não?

Essa eleição foi diferente em muitos sentidos. Pela primeira vez tínhamos uma opção real de mudança, mesmo que não fosse a que você desejou.  A menos que seja um empresário do porte do dono da Delta e que, portanto, vive alienado da realidade da cidade,  qualquer apoio a essa prefeitura é apologia ao crime. Às milícias, às remoções, às demolições, aos aumentos extorsivos de impostos, ao total desrespeito aos Direitos Humanos, à vida quando mata e põe a culpa no trabalhador como no caso do bondinho (melhor nem falar em Sta Teresa, que já foi palco de tantas iniciativas culturais, hoje proibidas)... a “ficha corrida” dessa prefeitura é extensa!

Na minha opinião, esse tipo de patrulhamento entra na galeria do patrulhamento aos racistas ou homofóbos. É simplesmente inaceitável, justamente por vivermos numa democracia (ignorada por nosso autoritário prefeito, que até já declarou seus desejos de vitaliciedade, tão caro ao Senado Imperial que já abrigamos na cidade)

Caro, Chacal! Vc sempre foi um ídolo dos jovens cariocas... Fez escola, cara! O CEP 20000 deixei de frequentar quando foi para o Sérgio Porto, (que acho um caixote inóspito), mas segui acompanhando suas peripécias culturais de longe. Mas nessa você mandou MUITO mal, e a vaia serve de puxão de orelha do teu público. Forma genuína de expressão popular num caso desses. Talvez, não fosse a falta de saco do cidadão para ler notícias inteiras, ou a falta de memória (que alguém mencionou como algo positivo num comentário ao post), a vaia não tivesse acontecido. Mas, certamente haveria um circo mais vazio... Sinais de menos pão, e menos circo na nação?

 A impressão que dá é de que algumas pessoas nem leram o que assinaram. Você viu o que o famigerado manifesto falava sobre a saúde e educação?! Como professora, ainda que da rede particular, achei que devia ser engano seu nome estar lá.

Mas o que dói mesmo, o que não tem justificativa, é defender o governo para defender seu emprego. Sim todos precisamos trabalhar, mas a ética tem que estar acima de tudo. Assim, meu caro, você se iguala a todo e qualquer político que utiliza o bem público em benefício próprio. Iguala-se àqueles que fazem coligações nojentas para garantir mais um mandato. Não era o CEP 20000 que estava em jogo naquele momento, era o futuro do Rio de Janeiro.

Seria mais digno, até, se você afirmasse que concorda com a ideologia da cidade empresa, do Eike, do prefeito, etc.

De toda forma, você terá mais 4 anos para se arrepender, espero que não seja tão amarga a experiência, quanto o foi para nós, ver lá o seu nome.

Um pesadelo


Tive um pesadelo. Acordei assustada, suada, trêmula.

Sonhei que andava pelo Rio. Não sei por que, mas eu ia pela Nossa Sra. de Copacabana. Comecei a achar tudo muito estranho! O comércio estava fechado e a rua vazia. Dos letreiros das poucas lojas ainda com ares de que funcionavam, pendiam, “meio-soltos-meio-presos”, plásticos pretos esvoaçantes.  Mesmo assim o comércio que parecia ainda ativo era restrito à cabeleireiros, veículos imobiliárias e cerveja, todos com o mesmo nome começando com X. O asfalto era muito liso mesmo, e por ele não passava ninguém.  Reparei que os prédios mais antigos sem portarias com grades modernas, portas de vidro, garagens eletrônicas e etc, aquelas portarias normais, mais antigas, comuns em Copacabana, tinham, todas, faixas como as da Defesa Civil, impedindo a entrada. Foi quando me dei conta de que não havia mais uma única palavra na rua em português.

Olhei o termômetro, marcava o equivalente a 22º C, mas em fahrenheit. No entanto, o ar era pesado. Difícil de respirar. Resolvi seguir pelo calçadão. Os prédios da Av. Atlântica eram, sem exceção, hotéis. Mas estavam decadentes como uma daquelas cidades fantasma norte americanas. Não estavam depredados, apenas abandonados. Senti um alívio ao conferir q o mar ainda estava lá embora não fizesse qualquer som. As ondas iam e vinham, continuamente, em silêncio. Não havia pessoas na praia, nem no calçadão, nem na ciclovia. Os postos eram postos da PM e os quiosques mini Q.G.s da Guarda Municipal, mas não dava para ver se havia alguém lá dentro.

Lá longe... avistei algo que parecia se movimentar.  Fiquei dividida entre o medo e a alegria de ver alguém. Apertei os olhos tentando focalizar. O movimento era rápido. Depois de uma curva vi que eram dois os objetos não identificados. Mais medo, mais alegria.  Conforme se aproximavam, notei que eram duas bicicletas. Eram dois guardas municipais, aos quais, no Rio, apelidamos carinhosamente de “municipelas” numa referência ao caráter “pela saco” de suas funções.

Quando me viram, pararam. Como tudo estava tão irreconhecível, pensei que me dariam a notícia de um grande cataclisma. Imaginei que me levariam a um dos quiosques – QGs, e me encaminhariam ao local onde estariam os demais sobreviventes. Quando se aproximaram, olharam para mim de cima a baixo. No sonho eu ia ou voltava do trabalho. Estava com a camisa da empresa, jeans e tênis, como sempre. Perguntaram meu nome e respondi. Pediram meu RG e eu dei. Foi aí que um deles sacou as algemas e veio, abrindo-as, na minha direção.

- Mas o que é isso?! – Perguntei indignada quando ele começou a me algemar. Procurei o nome na farda, não havia nenhum.
Ele respondeu que eu estava sendo presa. Quis saber por que. Eles se entreolharam e, em seguida, o que estava quieto até então, disse com ar de deboche:
- Ela que saber por que... Olha aqui garota, eu não tenho que te explicar nada, mas eu vou quebrar teu galho. Você tá toda errada!
-Como assim? Não fiz nada que não devesse, não deixei de fazer nada que fosse minha obrigação.
- A senhora está desrespeitando diversas portarias da Sec. De Ordem Pública! Pra começar, a senhora está em horário comercial de tênis, jeans e camiseta. Trajes despojados só são permitidos no Rio de Janeiro de 2ª a 6º feira de quatro às seis da manhã ou após às 18h. Nos sábados de quatro às nove e após às 16h e, só aos domingos, é liberado. Além disso, a senhora não está com a unha feita e não passou nem um corretivo nessas olheiras... o que também é uma violação da portaria que versa sobre o asseio do cidadão carioca. Pelas unhas imagino que a senhora que não está com o seu CCRS em dia.
- CCRS?
- Em que mundo a senhora vive? A senhora não tem um Cartão de Cadastro de Revisão de Salão? Aquele que atesta que a senhora tem cumprido a lei e ido ao salão regularmente toda semana faz unha, sobrancelha e corta o cabelo de três em três meses.
- Não.
- Ih! Ubirajara, a moça nem tem o CCRS! Tu vai ficar trancada um tempo, minha filha!  E deu sorte que nós te paramos antes que cruzasse para Ipanema...
- Desculpe, mas eu não estou entendendo...
- Ué?! Para mudar de bairro não pode ir a pé. Tem que ir de ônibus, van, táxi ou metrô. Ou de carro, né?
- E bicicleta?
-Bicicleta só a Guarda Municipal tem licença para usar, e só aqui na ciclovia. 

Da forma repentina como as coisas são nos sonhos, surgiu uma viatura e dois PMs. Dentro da viatura a caminho da prisão, meus olhos atentos continuavam a observar a estranha cidade.  Passamos pelo Leblon e só lá havia vida nas ruas. Mas ainda assim era esquisito. Uma gente muito loura, alta, de olhos claros que falava uma língua muito estranha, ou várias, sei lá.

Seguimos pela Barra onde o clima de abandono, de desterro era o mesmo.  Fizemos um caminho louco, mas uma série de ruas tinha mudado de mão ou foi fechada com cancelas.
Depois de muito tempo, chegamos ao destino final. O estádio Mário Filho era a o oposto do resto da cidade: novo, porém depredado. Saltando do carro, o cheiro parecia horrível e o burburinho era mais alto que em dia de final do brasileirão.

Lá dentro, passei por todo o processo normal de chegada de um novo preso. Adentramos o campo onde eu passaria alguns anos e eu, finalmente, entendi onde estava a população que tinha sobrado na cidade.